À Direção Nacional do PSOL
À Direção Estadual do PSOL–SP
A todos os militantes que lutam por um Brasil Socialista
Para que ao invés de luta interna e de polêmicas tenhamos a unidade do PSOL e da esquerda!
Para que o PSOL se fortaleça!
Para que tenhamos os melhores representantes e candidatos!
Para construir uma alternativa anticapitalista!
Vivemos um momento decisivo. A classe dominante tenta fazer da eleição um jogo de cartas marcadas entre os 3 candidatos que defendem os seus interesses. Necessitamos tomar medidas drásticas para que a esquerda socialista tenha condições de disputar os corações e mentes que saíram às ruas em junho. Para isso é necessário uma política correta nos grandes centros. Escrevo esta carta e apresento uma proposta para ajudar a construir esta possibilidade e evitar uma catástrofe política em nossa campanha em São Paulo e, consequentemente, em nossa campanha nacional.
Em junho de 2013 o Brasil viveu um levante juvenil e popular. As multidões nas ruas cantavam “o povo acordou”. Quem presenciou, quem viveu, quem participou não esquecerá. É preciso ser fiel ao povo que tomou as ruas para dizer basta. A crise de representação do sistema político atual ficou evidente. A demanda por melhorias na saúde, na educação, no serviço público em geral e no transporte público em particular ficou patente. Uma ampla plataforma de reivindicações foi erguida por um movimento de massas com uma enorme criatividade e muita espontaneidade, embora resgatando inúmeras lutas que vinham sendo travadas antes e com muitos dos ativistas que antes de junho militavam pelas causas abraçadas massivamente em junho. Sabemos muito bem que entre estes ativistas estavam os militantes do PSOL, do PSTU, do PCB, militantes e amigos da esquerda que não se rendeu e não aceitou sustentar o regime burguês, curso seguido pelo PT e pelo PC do B, a velha esquerda que capitulou e se integrou na defesa da ordem burguesa e sua lógica de exploração e opressão dos trabalhadores e dos jovens.
Os militantes de esquerda que atuaram em junho tem a responsabilidade de fazer com que nas eleições que se aproximam a pauta de junho não seja manobrada, desviada ou simplesmente desconsiderada. O espírito combativo de junho precisa se apresentar nas eleições de outubro. Se é verdade que as eleições são um terreno para a burguesa exercer uma das formas de seu domínio, é verdade também que as eleições foram uma conquista na luta contra a ditadura e será um momento em que milhões serão chamados a participar e a esquerda não pode deixar de apresentar a sua proposta, o seu caminho, a sua alternativa para que a crise não continue sendo paga pelo povo.
Para que a luta de junho possa ser pelo menos parcialmente traduzida na disputa eleitoral, tenho me jogado, junto com muitos outros camaradas, para que o PSOL assuma a responsabilidade de agarrar com força as bandeiras de junho. Este foi um dos sentidos dos debates que a Fundação Lauro Campos, a qual tenho tido a honra de presidir desde o último Congresso do PSOL, tem promovido em vários Estados do país. Tenho percorrido o país com esta discussão. E tenho ficado muito satisfeita de ver que o nosso pré-candidato do PSOL a presidente da República, companheiro Randolfe, tem pautado sua intervenção fazendo eco à primavera carioca, encabeçada em 2012 pelo companheiro Marcelo Freixo, de que nada é impossível de mudar. Randolfe tem se manifestado em defesa das greves, dos melhores salários, contra as privatizações, denunciando as falcatruas da copa, o domínio do capital financeiro, a luta pela reforma agrária, contra a corrupção, pelo passe livre e também pelos direitos civis, como o casamento igualitário e a descriminalização da maconha, proposta importante de nosso deputado federal Jean Wyllys.
As posições que Randolfe tem defendido reafirmam minha convicção de ter tomado a decisão correta em aceitar a tarefa de ser candidata a vice-presidente na chapa nacional. Assumi tal tarefa na expectativa de ajudar na definição de um programa fiel a junho e às causas anticapitalistas e para construir a unidade partidária necessária para enfrentarmos o processo eleitoral. Busquei contribuir nesta construção programática, apresentando em diversos momentos um conjunto de propostas e eixos programáticos. A unidade do PSOL era e é fundamental para garantia do fortalecimento do partido, sobretudo depois de um congresso em que Randolfe teve o apoio de menos de 50% dos militantes do partido e eu mesmo obtive o apoio de cerca de 30%. O partido assim, depois de um congresso dividido, tinha como primeira tarefa recompor sua unidade. Sem ela nossa impotência seria total e nosso fracasso definitivo. Quem fundou o PSOL e tem orgulho desta história não deixa de defender o partido.
Garantida a unidade partidária, o desafio seguinte seria unir outros setores da esquerda. Este foi o plano que se concretizava na constituição da Frente de Esquerda, tanto a nível nacional como nos Estados. Apesar das dificuldades do avanço das negociações para a conformação da chapa nacional, foi possível avançar em Estados importantes. No Rio Grande do Sul, em Alagoas, por exemplo, a frente foi fechada. Mas o mais importante é que a frente estava se encaminhando para se concretizar em SP. Em São Paulo temos o centro, o coração do país. Trata-se, sem dúvida, da capital política do país, por concentrar grande parte do eleitorado, por seu peso econômico, social, suas lutas e tradição. Uma aliança nacional que não se concretize em SP é como se não existisse. E a concretização de uma aliança em SP compensa muito a ausência de uma aliança nacional. Isso é ainda mais válido devido a particular situação de SP – parte e ponto avançado da situação nacional – comovida por greves, protestos, surgimento de movimentos sociais novos, combativos e independentes, como o MTST. E a tudo isso se somou um triunfo do partido: a filiação de Vladimir Safatle, intelectual de esquerda, com muito prestígio, que se dispôs a ser candidato pela frente de esquerda. O PSOL estava até ontem unido na defesa de seu nome. O PSTU também declarou seu apoio.
A concretização da Frente de Esquerda (faltando apenas o PCB) era o desdobramento lógico de tal unidade. Tal unidade com Safatle era a garantia de que nas eleições teríamos força no principal Estado do país. A garantia de que o PSOL encabeçaria uma frente política e social muito além das nossas próprias forças e conectada com os acontecimentos de junho de 2013. O PSOL se fortaleceria. A campanha iria crescer. Mas eis que a direção do PSOL vota, numa votação bem dividida, a substituição do nome de Safatle pelo jornalista Maringoni. Como todo o respeito que devemos ter por Maringoni, seu nome divide o PSOL, inviabiliza a frente com o PSTU e a frente de esquerda e não tem condições de se apresentar como um pólo alternativo ao PT e ao PSDB, que são os dois partidos que sustentam o regime burguês brasileiro e disputa entre si qual será o carro chefe dos planos de ajuste contra o povo. Com Safatle o PSOL e a frente de esquerda podem começar a disputar influencia de massas. Sem ele nossa derrota na eleição se impõe, o que é inaceitável, sobretudo quando as chances de lutar e de vencer são evidentes e estão postas como uma possibilidade concreta.
Não se trata aqui de fazer balanço de porque se chegou a esta situação. Não é meu propósito discutir quem errou. Trata-se de lutar para termos o melhor candidato. Trata-se de resolver os problemas para que este nome seja de todo o partido e que se construa a frente de esquerda na capital política do país. Trata-se simplesmente de fazer o que deve ser feito, acima de desavenças menores por mais sérias que sejam. Ou seja, temos que todos colocar os interesses da classe trabalhadora acima de qualquer outra questão. E podemos fazer isso. Para tanto a direção do nosso partido em SP, regional na qual temos o maior numero de militantes, reconsidere sua decisão e escute o apelo de todos os militantes. Tenho confiança na capacidade de nossa direção da mesma forma que tive confiança na chapa nacional ao aceitar a posição de vice. Ao mesmo tempo, peço que Vladimir Safatle declare sua disposição de assumir a tarefa de ser candidato a governador e trabalhar com a direção de SP e a direção nacional do partido. Peço que ele confie que faremos todos um enorme esforço para garantir uma forte e unitária campanha em SP.
Para que minha disposição e vontade de construir o PSOL e a unidade da frente de esquerda não se resuma a palavras e a apelos, quero apresentar minha disposição em renunciar ao lugar de pré-candidata a vice presidente. Aliás, em todas as negociações para constituir a frente, a Unidade Socialista, em nenhum momento colocou em questão minha participação na fórmula majoritária, consciente da importância da unidade do PSOL. Mas se eu mesmo abro mão desta localização é para dar um passo além: conquistada a unidade do PSOL posso deixar claro para os companheiros da Unidade Socialista que aceito que a representação do PSOL seja feita apenas pelo nome de Randolfe, sem meu nome na fórmula majoritária. E ao mesmo tempo, com este gesto, garanto o lugar para que o PSTU aceite participar da chapa nacional. Trata-se de um esforço para superar todos os obstáculos. Sei que os companheiros do PSTU colocaram, além de ocuparem a vaga de vice-presidente, outras condições para compor uma chapa nacional comum, como é a concretização da aliança no Rio de Janeiro. Mas neste caso, com meu recuo, imagino que os camaradas do PSTU colocarão os interesses gerais da unidade em mais alta conta. Concretizando este gesto, renunciando o lugar de vice, quero mostrar que todos devemos saber refletir, recuar, ceder, compor, rejeitar o espírito de carreira e se comprometer com o espírito de junho. Para isso é preciso que a direção de SP mostre sua sabedoria e recue na decisão de não ter Safatle como candidato. Afinal, sem a unidade em SP a frente é impotente. E a candidatura de Safatle garantirá a unidade do PSOL. Garantirá a unidade da frente de esquerda. A vitória da campanha do PSOL em SP será fundamental para a vitória política da campanha Randolfe Presidente. Estou inscrita como soldada desta luta.
Temos um mês para resolver esta questão. Ainda, portanto, temos tempo para acertar. Mas não podemos perder este tempo em lutas internas e em polêmicas não construtivas.
Luciana Genro
23 de mai. de 2014
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