3 de abr. de 2010

PSOL: Propriedade de Cúpulas ou da Classe Trabalhadora?

Desde o processo de putrefação do Partido dos Trabalhadores, onde militei por vários anos, chagando ao ápice em 2003 com a formação da equipe de ministros comprometidos diretamente com o capital e especialmente, depois da expulsão dos parlamentares ditos radicais, comecei uma nova empreitada juntamente com diversos sonhadores que acreditavam ser possível fundar um partido para “abrigar a esquerda socialista”. Todos nós acreditávamos que ainda havia jeito para a esquerda brasileira e que poderíamos contribuir com esse encanto.
Não esqueço as diversas vezes que passamos os finais de semana nas belas praias do RN, coletando assinaturas e sendo xingados por aqueles (as) que não acreditam na política e nos partidos, claro, têm seus motivos. Sempre estava eu, minha esposa, meus filhos e mais meia dúzia de obstinados do RN que optavam por militar em detrimento do descanso e do justo lazer nos finais de semana, mas éramos alegres porque acreditávamos e sabíamos muito bem o que estávamos construindo, um partido sério e responsável para manutenção do sonho de vários socialistas espalhados pelo Brasil.
Em todas as oportunidades, as pessoas perguntavam: “esse é o partido da senadora Heloísa Helena?”, e concluíam: “que mulher porreta!!”. Outros ainda questionavam: “será que vocês não serão um novo PT?”. Agradecíamos e dizíamos que se nosso partido se transformasse num novo PT iríamos construir outra coisa, mas desistir nunca.
Assim, conseguimos fundar nosso partido que inclusive, fomos a única delegação a sair de Natal com camisetas propagandeando o P-SOL, quando nem sabíamos qual sigla seria escolhida. Lá em Brasília chegaram cerca de 22 propostas de sigla para os delegados (as) escolherem, enfim, P-SOL foi a sigla escolhida e nossas camisetas ficaram valendo ouro em pó.
Voltamos para o RN com a certeza de que agora sim, vamos construir algo que é nosso e não pertence à cúpula nenhuma. Que alegria!!! Quanta felicidade!!! Depois veio a angústia da legalização junto ao TSE e me lembro muito bem que tinha uma comissão que se revezava às portas do TSE para conseguirmos a legalidade a tempo de concorrer ao pleito de 2006, isso ocorreu e comemoramos muuuuuuito. Até então era meia dúzia de malucos, enquanto outros ainda acreditavam que o PT era importante e tinha jeito, mesmo com o corrupto do Dirceu, Silvinho e cia. Parte desses companheiros chegou depois e ficamos felizes porque nosso exército contra o capital estava se fortalecendo.
Em 2006 estava posto o segundo desafio: Concorrer ao nosso primeiro pleito eleitoral. Agarramos o desafio com a obstinação de sempre, sem grana, sem panfleto, mas com garra e ousadia. Aqui no RN eu mesmo fui o “maluco” a concorrer com as grandes estruturas econômicas, mesmo assim ficamos em terceiro lugar num universo de sete candidatos. Heloísa, quando poderia ter sido re-eleita senadora, abriu mão do mandato, o que não é fácil e não sei se alguém de nós faria isso, encarou o mega desafio de disputar a presidência da república e assim perambulou o Brasil inteiro, sem qualquer estrutura. Quando chegou aqui em Natal, uma numerosa carreata estava lhe aguardando, mas veio de carro da Paraíba e chegou passando mal, indo direto para um hospital de pronto socorro. Mesmo assim, participou da carreata no sol escaldante de Natal, caminhou conosco e d iscursou. Bom, o resto todo mundo já sabe e depois (2008) a companheira teve que ser vereadora em Maceió e ralou pra cacete para ser eleita.
Agora, acertadamente, será candidata ao senado e creio que voltará ao senado e assim, o PSOL voltará a ter visibilidade naquela casa de cretinos.
Posso estar me alongando muito, mas esse resgate é bom para refrescar as cabeças de muita gente que insiste em esquecer nossa história e desrespeitar a vontade da militância séria que existe no partido. Aquela militância que de uma vez por todas esqueceu o PT.
Bom, por ocasião do último congresso do partido, fiquei frustrado quando vi algumas cúpulas se organizando para se aproveitarem do nome da Heloísa para garantir seus mandatos e depois virar as costas para ela e até chamarem de eleitoreira, absurdo. Como isso não ocorreu, a chantagem foi lançada: Se você não quer ajudar a garantir nossos mandatos como candidata a presidente da república, então não serve para ser nossa presidente do PSOL. Incrível!!! Felizmente, o MES e o MTL não pensou duas vezes e reconheceu a história e a importância da Heloísa para o conjunto do partido, afinal, sem personalismo, mas se não fosse Heloísa o PSOL jamais teria a visibilidade e a credibilidade quem AINDA que tem.
Agora, começamos as conferências municipais e estaduais que culminará na nacional. A militância mais uma vez respondeu, desbravou, superou dificuldades e fez o dever de casa. Inesperadamente, uma cúpula partidária, arrogante, despreparada e incapaz, tenta desrespeitar a vontade das bases partidárias e sobrepor sua vontade em detrimento da maioria espalhada pelo Brasil inteiro. Possivelmente, isso ocorra porque a cúpula não conhece a realidade da militância do PSOL, pois optam por se encastelar nos gabinetes refrigerados, nas estruturas. Mais não parou por ai, tiveram a ousadia de excluir a Heloísa da presidência do partido por ocasião da reunião do diretório, quando retiraram seus poderem de assinar cheques, ou seja, rasgaram o estatuto do partido. Será que as cúpulas pensam que podem mais que as bases partidária?
O que vai acontecer eu não sei, mas uma coisa acredito, haverá uma rebelião das bases contra essa cúpula autoritária e de práticas estalinistas. Como filiado e dirigente estadual, não aceito e nem respeito qualquer decisão que comprometa a democracia e a legalidade partidária, isso não tem valor nenhum. Estamos perto de ver os dirigentes de ninguém, enquanto que as bases constroem a política. Também não sei até quando o partido continuará estagnado, sem formular políticas que combatam os ataques do governo Lula e do capital, preferindo a mediocridade das briguinhas internas.
Próximo dia 15 de abril, teremos marcha em Brasília contra o projeto que congela os salários dos servidores públicos por dez anos, a cúpula do PSOL estará presente? A militância estará nas ruas fazendo seu papel. Quem vai falar pelo PSOL?
Diante desse contexto, reivindico que quem não quiser construir o PSOL, por favor, não seja pedra de tropeço. Se a direção dirige nada e ninguém, vamos usar o estatuto e convocar um novo congresso pelas bases e atropelar a burocracia partidária, quem sabe assim possam acordar para a realidade. O PSOL não é patrimônio pessoal de ninguém. A classe trabalhadora espera que nosso partido seja o orientador de suas lutas gerais.

* Sandro Pimentel é fundador do PSOL, presidente estadual da sigla no RN e dirigente nacional, graduado em gestão pública pela UFRN, coordenador geral do SINTEST/RN, dirigente nacional da Fasubra Sindical, representa os técnico-administrativos das universidades públicas e privadas brasileiras na CONAES e é titular do CONSAD/UFRN.

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