18 de mai. de 2011

O show de horrores continua.

O midiático assassinato da liderança máxima da al-Qaeda, Osama Bin Laden, na casa blindada e bem armada no cênico vale de Abbottabad é incrível, em vários sentidos. Fora do Paquistão, é difícil acreditar que Bin Laden estava sendo caçado dentro de um país aliado dos EUA na “guerra contra o terror”, mesmo que o General Musharraf oferecesse certas pistas.
Na contracapa de seu célebre livro Na Linha de Fogo (In The Line Of Fire), escrito em 2006, está escrito: “Logo depois do 11/9 – quando muitos líderes da al-Qaeda fugiram do Afeganistão e cruzaram a fronteira do Paquistão – nós praticamos múltiplos jogos de gato-e-rato com eles. O maior deles. Osama Bin Laden, ainda está à solta no momento em que escrevo, mas nós pegamos muitos muitos outros. Capturamos 672 e entregamos 369 aos Estados Unidos. Nós ganhamos milhões de dólares em prêmios. Aqui, contamos a história de somente algumas das mais significativas caças”.
Ele era o comandante militar, ‘presidente’ do país e arquiteto da política ‘gato e rato’ implementada no Paquistão durante o período em que Osama escapou de Tora Bora e acabou no palácio blindado que nós incessantemente vemos pela TV ao redor do mundo. O jogo de ‘gato e rato’ está exposto, deixando o Paquistão tremendamente embaraçado. No dia 3 de maio, o ISI (Inter-Services Intelligence) contou à BBC que não sabia sobre a presença de Bin Laden e seu dito complexo armado. Essa é uma mentira que até o ex-chefe do ISI, um apoiador leal da al-Qaeda, General Hameed Gul, não estão dispostos a comprar. Em uma entrevista gravada, Gul disse: Bin Laden em Abbottabad sem nenhum conhecimento das autoridades “é um pouco fantástico”. Sobre dos militares, Gul afirma que “há a polícia local, o Centro de Inteligência, a Inteligência Militar, o ISI – todos eles marcam presença por aqui”.
Para desmanchar a política de ‘gato e rato’, é preciso informar aos estrangeiros algumas coisas. O ISI, ou Serviços Integrados de Inteligência (Inter Services Intelligence), é a agência de espionagem mais poderosa do país, que controla – por trás da cena – a política externa, a política interna e a mídia, enquanto o exército é a instituição mais poderosa do Paquistão em termos económicos e políticos. Desde nossa independência da Inglaterra em 1947, o exército governou o país por 33 anos. Ele detém 2 dúzias de propriedades e negócios: de bancos à fábrica de cimento, o exército paquistanês é o maior acionista em todos os setores industriais e financeiros do país. Um terço do orçamento federal é reservado à Defesa.

Desde o início dos conflitos no Afeganistão em 1979, o ISI cumpriu um papel chave. Os estrategistas militares consideram o Afeganistão como um jardim que deve ser abastecido no caso de qualquer agressão provável por parte da Índia, o que chama de profundidade estratégica. Além disso, os estrategistas militares querem controlar o Afeganistão para ganhar influência entre os Estados da Ásia Central, abençoados com imensas reservas de gás. Diante disso, as redes Taliban e al-Qaeda foi protegida e padronizada pelo ISI desde o 11/9. A estratégia é esperar os EUA sair. Como com as tropas soviéticas nos anos 1980, ISI espera que as tropas americanas voltaram para casa se o Taliban continuar lhes sangrando. Sendo assim, o exército está recentemente articulado ao jogo de lebre e caçador contra al-Qaeda/Taliban, cumprindo papel de cão de caça dos EUA. Entraram no jogo para garantir a ajuda de US$ 11 bilhões (desde de 2002) e ao mesmo tempo está junto com a lebre barbuda assegurando a tal ‘profundidade estratégica’. Porém, passado um tempo,Washington descobriu a realidade do jogo de ‘gato e rato’.
Desse modo, começou a deteriorar o santuário do Taliban no Paquistão (Waziristan) em 2004 e invadiu o famoso (e infame) casarão de Abbottabad em 1 de maio, sem nenhuma informação prévia do Paquistão. De qualquer forma, quando Obama mencionou a cooperação do Paquistão na caça a Osama, foi um ato de sutil diplomacia. Sem apoio logístico do Paquistão, Washington sabe, as tropas da OTAN estariam famintas no Afeganistão. Sendo assim, para assegurar as linhas de suprimentos, Washington continuará caçando, com a relutância do ISI. O ISI, tendo sido demasiadamente exposto, planejou uma nova estratégia. Por um tempo, irá caçar com mais seriedade com os cães enquanto se junta mais discretamente com as lebres. Tampouco pode desistir. O exército do Paquistão, desde 1950, foi treinado e armado pelos EUA. Um embargo do exército americano iria não apenas executar o ineficáz exército paquistanês, como também irá custar os benefícios e o extravagante estilo de vida dos generais. Khakis tampouco pode desistir da camaradagem barbada. ‘Empreendimentos estratégicos’ – como Taliban/al-Qaeda e seus parceiros paquistaneses são chamados na mídia do país – não são somente um imperativo para a ‘profundidade estratégica’. O conflito com a Índia precisa manter-se aceso. Toda a fachada militar no Paquistão é construída sobre a ameaça imaginária de uma agressão da Índia. Sendo assim, com ou sem Osama, sempre que os EUA estiverem no Afeganistão e enquanto os militares continuarem dando ordens no Paquistão, o conflito afegão seguirá incessante. É uma situação sem vencedores.

fONTE: PSOL INTERNACIONAL

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