Aos 80 anos e com apoio de Fidel Castro, 84, Ramón Machado Ventura foi escolhido para ocupar a segunda secretaria do Partido Comunista de Cuba. O anúncio foi feito por um constrangido Raúl Castro no encerramento do 6º Congresso do PC, na manhã desta terça-feira, em Havana.
“As escolhas mostram que as importantes reformas econômicas são apenas um instrumento para a manutenção do status quo”, disse uma fonte com trânsito no governo.
Nas ruas de Havana, a escolha provocou decepção. A maioria das pessoas esperava a escolha de um jovem como Marino Murillo, ex-ministro das Finanças e mentor do plano de mudanças econômicas aprovado pelo congresso, ou Lázaro Esposito, primeiro secretário do PC na província de Santiago.
“Machado Ventura? Não acredito. Estava certa de que seria Murillo. Os revolucionários já fizeram sua parte. Eles precisam se desapegar do poder e passar o bastão para a nova geração. É preciso gente nova para acompanhar politicamente as modernizações propostas no plano de reformas”, reagiu surpresa a enfermeira Y., de 39 anos, ao ser informada pela reportagem do iG sobre o escolhido.
Nascido em 26 de outubro de 1930, o médico José Ramón Machado Ventura combateu ao lado de Fidel, Raúl e Ernesto “Che” Guevara na Revolução que derrubou o ditador Fulgêncio Batista no réveillon de 1959. Integrante do Escritório Político do PC desde a fundação do partido, em 1962, já ocupou diversos cargos de destaque na hierarquia cubana, entre eles o de ministro da Saúde.
Raúl, que durante a abertura do congresso no sábado havia criticado o processo de renovação dos quadros partidários do PC, chegou a se desculpar pela escolha, dizendo que o nome de Ventura foi a alternativa possível no momento.
“Mantivemos vários veteranos da geração histórica e é lógico que isso aconteça, como consequência das deficiências cometidas neste âmbito (da formação de novas lideranças) e criticadas no informe central (sábado) que nos impedem de contar hoje com uma reserva de substitutos maduros e com experiência”, disse Raúl.
Segundo uma resolução aprovada na segunda-feira pelo PC, o atual quadro dirigente do partido é temporário. Em janeiro de 2012 a Convenção Nacional do partido vai escolher um novo Comitê Central que por sua vez escolherá entre os integrantes um novo Escritório Político (responsável pelas decisões executivas).
O comitê decidiu reduzir de 19 para 15 o número de integrantes do escritório. Entre os escolhidos há apenas três nomes novos. Os outros 12 são os mesmos que tomaram posse no último congresso do PC, há 14 anos.
Em artigo publicado na segunda-feira em um site oficial, Fidel admite que defendeu a manutenção dos históricos no comando do partido.
“Havia alguns companheiros que, já por seus anos e sua saúde, não poderiam prestar muitos serviços ao partido, mas Raúl pensava que seria muito duro para eles serem excluídos da lista de candidatos. Não vacilei em sugerir-lhe que não se exclua companheiros de tal honra e garanti que o mais importante é que o meu nome não apareça nesta lista. Penso já ter recebido demasiadas honras”, disse Fidel no artigo em que afirma também ter sido “quase obrigado” a assumir o comando da ilha após a Revolução de 1959, condição na qual se manteve por 50 anos.
Fidel compareceu pessoalmente ao encerramento do congresso. Vestindo agasalho esportivo azul, ele caminhou com dificuldade e causou comoção. Alguns delegados choravam copiosamente diante da presença do “comandante em chefe”.
Fidel não falou. A sessão de encerramento foi aberta com a leitura de uma longa carta enviada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, convertido em pilar do regime castrista graças aos aportes financeiros destinados à ilha na última década.
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