15 de jun. de 2010

As eleições e o monopólio da mídia.

Plínio Arruda Sampaio

Na última quinzena estive em diversas cidades do Brasil. No dia 19 de maio, fui a Brasília, onde participei da “Primeira Marcha Nacional contra a Homofobia” e falei para estudantes da UnB. De lá, voei para Francisco Beltrão, no Paraná, onde me esperavam três mil assentados de reforma agrária para ouvir uma palestra sobre agroecologia.
A parada seguinte foi em Fortaleza, no Ceará, a fim de discutir o Programa de Governo, nos dias 22 e 23 de maio. No dia 24, participei de debate sobre as violações aos direitos humanos na Semana de Jornalismo da PUC-SP e, à noite de um seminário de lançamento da campanha em defesa da convivência familiar promovido pelo Conselho Regional de Serviço Social, também na capital paulista.
Neste mesmo período a OAB, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a rádio CBN anunciaram debates com os três pré-candidatos do sistema. O pré-candidato do PSOL não foi convidado.
E, na sequência, percorri as capitais do Sul do país (Curitiba, Santa Catarina e Porto Alegre), nos dias 26 a 28, em diversas atividades. À exceção de Porto Alegre e Santa Catarina, onde a mídia em geral e os veículos impressos em particular repercutiram as atividades, o silêncio foi quase total.
No sábado dia, 29, pela manhã, participei de outro debate, no TUCA, promovido pelo Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e à Educação Popular. À tarde, a candidata pelo PV Marina Silva participou do debate. Pois bem, os grandes órgãos de imprensa, à exceção do Terra, apesar de avisados, não deram uma linha de informação sobre minha presença nessas atividades apesar de cobrirem a presença da candidata do PV no evento. É a cortina de silencio sobre a candidatura que não pode ser noticiada.

Por que?

A “justificativa” é que o candidato é nanico e nem aparece nas pesquisas.
O fato é que o pré-candidato do PSOL é socialista e, como tal, tem uma proposta diametralmente opostas dos três preferidos da grande mídia.
O verdadeiro motivo da omissão da minha pré-candidatura parece buscar justificar a exclusão dos debates na TV. Embora o PSOL tenha o direito legal que reivindicará de estar nos mesmos, tendo em vista que tem bancada na Câmara dos Deputados.
Apesar dos três candidatos melhor colocados nas pesquisas ostentem elevados índices de preferência popular – impulsionados pela exposição massiva e cotidiana nas redes de TV, rádios e jornais – a burguesia não quer debater temas perigosos para eles. E isso é exatamente o que a candidatura do PSOL fará.
Temas “perigosos” são as soluções reais para os problemas da classe trabalhadora: emprego, terra para trabalhar e morar, educação, saúde, segurança e previdência social. Não convém que o povo conheça tais soluções, pois, se a atual tendência de aplicação de capitais estrangeiros no Brasil vier a se alterar (e a direita sabe que isto pode acontecer a qualquer momento) o “saco de bondades” do governo Lula terá de ser substituídos pelo “saco de maldades” do próximo governo seja quem for o eleito. E a mudança de ocupante da cadeira precisa ser vista pelo povo como a “única alternativa”.
Como realizar esta mágica se o povo tiver tomado pelo conhecimento da existência de alternativa?
A conduta da grande imprensa mostra bem a limitação da “democracia brasileira”. Sem uma pressão de opinião pública sobre esses veículos de comunicação, será impossível romper o círculo vicioso: não merece noticiário por que não aparece nas pesquisas e não aparece nas pesquisas porque não aparece no noticiário.

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