21 de jun. de 2010

A contenda inevitável.

Recentemente, afirmei que o mundo se esqueceria logo da tragédia que estava a ponto de se produzir como fruto da política seguida, durante mais de dois séculos, pela superpotência vizinha: os Estados Unidos.
Conhecemos sua forma sinuosa e arteira de atuar; o impetuoso crescimento econômico alcançado a partir do desenvolvimento técnico e científico; as enormes riquezas acumuladas às custas da imensa maioria de seu povo trabalhador e dos do resto do mundo por uma exígua minoria que, nesse país e nos demais, dispõe e desfruta de riquezas sem límite.
Quem se queixa cada vez mais senão os trabalhadores, os profissionais, os que prestam serviços à população, os aposentados, os que carecem de emprego, as crianças de rua, as pessoas desprovidas de conhecimentos elementares, que constituem a imensa maioria dos quase sete bilhões de habitantes do planeta, cujos recursos vitais se esgotam visivelmente?

Como os tratam as chamadas forças da ordem, que deveriam protegê-los?

A quem golpeiam os policiais, armados de todos os instrumentos de repressão possível?

Não preciso descrever fatos que os povos em todas as partes, incluído o dos Estados Unidos, observam através dos televisores, dos computadores e de outros meios de informação de massa.
Um pouco mais difícil é desentranhar os projetos sinistros daqueles que têm em suas mãos o destino da humanidade, pensando absurdamente que se pode impor semelhante ordem mundial.
Que escreví nas últimas cinco reflexões com as quais ocupei o espaço do Granma e do sitio Web CubaDebate entre 30 de maio e 10 de junho de 2010?
Já os elementos básicos de um futuro muito próximo foram lançados ao ar e não têm marcha atrás possível. Os impactantes acontecimentos da Copa do Mundo de Futebol na África do Sul, no curso de uns breves dias, captaram nossas mentes.
Apenas temos tempo de respirar durante as seis horas que se transmitem ao vivo e direto pela televisão de quase todos os países do mundo.
Tendo presenciado já os encontros entre as equipes mais prestigiosas em só seis dias, e aplicando meus pouco confiáveis pontos de vista, me atrevo a considerar que entre Argentina, Brasil, Alemanha, Inglaterra e Espanha está o campeão da Copa.
Já não sobra equipe proeminente que não tenha mostrado suas garras de leão nesse esporte, onde antes não se via mais do que pessoas correndo no extenso campo de uma baliza à outra. Hoje, graças a nomes famosos como Maradona e Messi, conhecedor ds proezas do primeiro como o melhor jogador da história desse esporte e seu critério de que o outro é igual ou melhor do que ele, posso já distinguir o papel de cada um dos 11 jogadores.
Conheci também nesses dias que a nova bola de futebol é de geometría variável no ar, mais veloz e quica muito mais. Os próprios jogadores, começando pelos goleiros, se queixam destas novas características, mas inclusive os atacantes e a defesa também se queixam, e bastante, já que a bola vai mais rápido e em toda sua vida eles aprenderam a manejar outra. São os dirigentes da FIFA que decidem sobre o assunto em cada Copa do Mundo.
Dessa vez transfiguraram esse esporte; é outro, ainda que se siga chamando igual. Os fanáticos, que não conhecem as mudanças introducidas na bola - que é a alma de um grande número de atividades esportivas - e enchem as arquibancadas de qualquer estádio, são os que gozam a beleza e todos as aceitarão sob o mágico nome do glorioso futebol. Até Maradona, que foi o melhor jogador de sua história, se resignará tranquilamente a que outros atletas façam mais gols, a maior distância, mais espetaculares e com mais pontaría do que ele, na mesma baliza, e do mesmo tamanho, que aquela na qual sua fama alcançou um sinal tão alto.
Com bola amadora era distinto, as batidas passavam da madeira ao aluminio, ou deste à madeira, só se estabeleciam determinados requisitos.
Os poderosos clubes profissionais dos Estados Unidos decidiram aplicar normas rígidas com relação à batida e outra série de requisitos tradicionais, que mantêm as características do velho esporte. Realmente, deram ao espectáculo especial interesse e também os enormes lucros que o público e os anúncios publicitários pagam.
Na atual voragem esportiva, um esporte extraordinário e nobre como o volei, do qual tanto se gosta em nosso país, está imerso em sua Liga Mundial, o torneio mais importante para esta especialidade a cada ano, excetuando os títulos que derivam do primeiro lugar nas competições olímpicas ou os campeonatos mundiais.
Sexta e sábado da semana passada, na Cidade Desportiva, se efetuaram os penúltimos jogos que tiveram lugar em Cuba. Nossa equipe até agora não perdeu uma só partida. O último adversário foi nada menos que a Alemanha. Entre seus atletas, estava um gigante alemão de 2,14 metros de altura, que é um excelente arrematador. Foi uma verdadeira façanha ganhar todos os set, exceto o terceiro da segunda partida. Os membros da nossa equipe, muito jovens todos, um dos quais tem só 16 anos, demonstraram uma surpreendente capacidade de reação. O atual campeão da Europa é a Polônia e a equipe alemã obteve a vitória nos dois encontros que teve contra aquela equipe. Antes desses êxitos, ninguém supôs que a equipe de Cuba estaria de novo entre os melhores do mundo.
Desgraçadamente, por outro lado, na esfera política, o caminho está saturado de enormes riscos.
Um assunto que assinalei anteriormente, entre os elementos básicos de um futuro muito próximo, lançados ao ar, que já não têm retrocesso possível, é o afundamento do Cheonan, navio insigna da marinha sul-coreana, que naufragou em 26 de março, em questão de minutos, ocasionando a morte de 46 marinheiros e dezenas de feridos.
O governo da Coreia do Sul ordenou uma investigação para saber se o fato foi consequência de uma explosão interna ou externa. Ao comprovar que procedía do exterior, acusou o governo de Pyongyang pelo afundamento da nave. A Coreia do Norte só dispunha de um velho modelo de torpedo, de fabricação soviética. Carecía-se de qualquer outro elemento, exceto a lógica mais simples. Não se podía sequer imaginar outra causa.
No passado mês de março, como primeiro passo, o governo da Coreia do Sul ordenou a ativação de alto-falantes de propaganda em 11 pontos da fronteira comum desmilitarizada que separa as duas Coreias.
O alto comando das Forças Armadas da República Popular Democrática da Coreia, por sua parte, declarou que destruiria os alto-falantes tão logo se iniciasse essa atividade. Ela fora suspensa desde o ano de 2004. A República Popular Democrática da Coreia declarou textualmente que convertiria Seúl num "mar de fogo".
Na sexta-feira passada, o Exército da Coreia do Sul anunciou que a iniciaria tão logo o Conselho de Segurança anunciasse suas medidas pelo afundamento do navio sul-coreano Cheonan. Ambas as repúblicas coreanas já estão com o dedo no gatilho.
O governo da Coreia do Sul não podía imaginar que seu estreito aliado, os Estados Unidos, colocaria uma mina no fundo do Cheonan, como relata num artigo o jornalista investigador Wayne Madsen, publicado por Global Research em 1º de junho de 2010, com uma explicação coerente do sucedido. Fundamenta-se no fato de que a Coreia do Norte não possui nenhum tipo de foguete ou instrumento algum para afundar o Cheonan, que não pudesse ser detetado pelos sofisticados equipamentos do caça submarino.
A Coreia do Norte fora acusada de algo que não fez, o que determinou a viagem urgente de Kim Jong Il à China em trem blindado.
Quando esses fatos se produzem subitamente, na mente do governo da Coreia do Sul não havia nem há espaço para outra causa possível.
Em meio ao ambiente esportivo e alegre, o céu se ensombrece cada vez mais.
As intenções dos Estados Unidos são óbvias desde há tempos, à medida que seu governo atua obrigado por seus próprios designos sem alternativas possíveis.
Seu propósito ­- acostumados à imposição de seus designos pela força -, é que Israel ataque as instalações produtoras de urânio enriquecido no Irã, utilizando os mais modernos aviões e o sofisticado armamento que irresponsavelmente lhe fornece a superpotência. Esta sugeriu a Israel, que não tem fronteiras com o Irã, a solicitar da Arábia Saudita permissão para sobrevoar um comprido e estreito corredor aéreo, encurtando consideravelmente a distância entre o ponto de partida dos aviões atacantes e os objetivos a destruir.
De acordo com o plano, que em partes essenciais foi divulgado pela Inteligência de Israel, ondas de aviões atacarão uma e outra vez para esmagar os objetivos.
No sábado passado, 12 de junho, importantes órgãos de imprensa ocidentais publicaram a noticia sobre um corredor aéreo concedido pela Arábia Saudita a Israel, préviamente acordado com o Departamento de Estado norte-americano, com o objetivo de realizar ensaios de voos com os caça-bombardeiros israelenses para atacar de surpresa o Irã, que estes já haviam levado a cabo no espaço aéreo saudita.
Porta-vozes de Israel nada negaram, limitando-se só a declarar que os mencionados países sentiam mais temor do desenvolvimento nuclear iraniano do que o próprio Israel.
Em 13 de junho, quando o Times de Londres publicou uma informação tomada de fontes de inteligência, assegurando que a Arábia Saudita divulgou um acordo que concede autorização a Israel para a passagem por um corredor aéreo sobre seu território para o ataque ao Irã, o Presidente Ahmadinejad declarou, ao receber as credenciais do novo Embaixador saudita em Teherã, Mohamad Ibn Abbas al Kalabi, que havia muitos inimigos que não desejavam relações próximas entre ambos os países, "...Mas se Irã e Arábia Saudita permanecem um ao lado do outro, esses inimigos renunciarão a continuar com a agressão...".
Do ponto de vista iraniano, a meu juízo, essas declarações se justificavam, quaisquer que fossem suas razões para fazê-las. Possivelmente não desejava ferir no mais mínimo seus vizinhos árabes.
Os ianques não disseram uma palavra, só para refletir mais do que nunca seu desejo ardente de varrer o governo nacionalista que dirige o Irã.
Há que se perguntar agora, quando o Conselho de Segurança analisará o afundamento do Cheonan, que fora navio insigna da Armada Sul-coreana; que conduta seguirá depois que os dedos nos gatilhos das armas na península coreana as disparem; se é certo ou não que a Arábia Saudita, de acordo com o Departamento de Estado, autorizou um corredor aéreo para que ondas de modernos bombardeiros israelenses ataquem as instalações iranianas, o que possibilita inclusive o emprego das armas nucleares fornecidas pelos Estados Unidos.
Entre um jogo e outro da Copa do Mundo de Futebol, as diabólicas notícias vão deslizando pouco a pouco, de modo que ninguém se ocupe delas.

Fidel Castro Ruz

16 de junho de 2010

Fonte: CubaDebate

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