O Brasil atingiu nesta década o que os economistas consideram um momento-chave para o desenvolvimento de um país: já há mais pessoas em idade economicamente ativa do que dependentes (fatia que inclui jovens e idosos). Esse fenômeno, também conhecido como bônus demográfico, é único e não dura muito - segundo especialistas, o bônus brasileiro deve se estender, no máximo, por 20 anos.
Ter uma parcela da população em plena atividade superando a camada de dependentes costuma ser benéfico ao desenvolvimento de um país. Essas pessoas, via de regra, geram maior riqueza e pagam impostos. Depois, quando se aposentam, elas vão descansar, mas, por outro lado, passam a sobrecarregar o sistema de bem estar social - e é por isso que o Brasil precisa correr para aproveitar essa vantagem demográfica momentânea.
“O País vive atualmente o melhor momento demográfico de sua história e conta com, pelo menos, outros 15 anos favoráveis”, diz o professor de mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) José Eustáquio Diniz Alves.
Em 1980, havia cerca de 70 milhões de brasileiros em idade economicamente ativa, na faixa entre 15 e 64 anos. Este ano, esse contingente já passa de 130 milhões e pode atingir o seu ápice por volta de 2030, quando o Brasil terá cerca de 150 milhões de pessoas em idade produtiva, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No Brasil, o bônus demográfico começou há aproximadamente dez anos, mas o País só conseguiu as vantagens dessa marca entre 2004 e 2008, período de crescimento econômico mais acelerado e de inclusão social, afirma Diniz Alves.
Mas o País precisa se preparar para o futuro. “Em geral, o bônus demográfico tem uma extensão de 50 a 60 anos. No Brasil, a razão de dependência demográfica já está em valores baixos e atingirá o menor valor entre 2020 e 2025. A partir daí, o peso da dependência dos idosos vai crescer continuamente fechando a janela de oportunidade”, explica o demógrafo Diniz Alves.
Na avaliação dos especialistas, para que a janela do bônus demográfico não seja desperdiçada é necessário um forte investimento em educação. Esse fenômeno precisa garantir uma boa qualificação para a farta mão de obra disponível e um mercado de trabalho com grande oferta de vagas, capaz de absorver as pessoas em idade produtiva.
De acordo com Diniz Alves, para um aproveitamento adequado das boas condições demográficas, é preciso manter um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de no mínimo 5% ao ano até 2025. E o avanço precisa ocorrer com inclusão social, sustentabilidade ambiental e altos investimentos em educação de qualidade.
Para Roberto Luiz do Carmo, pesquisador do Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Brasil ainda carece de uma perspectiva de planejamento de mais longo prazo, principalmente na área educacional.
“Tivemos ganhos importantes em termos educacionais nas últimas décadas”, disse Carmo, lembrando, no entanto, que mais da metade da população em idade de frequentar o ensino médio está fora da escola. “Se os jovens não forem preparados agora, estaremos jogando a questão para frente."
Planejamento para educação e saúde
Para Luiz Antônio de Oliveira, coordenador de população e indicadores sociais do IBGE, uma taxa menor de fecundidade vai permitir um melhor planejamento das políticas educacionais e de saúde do País. “Na área de saúde pública, por exemplo, deve haver uma mudança no foco: antes, estava voltado para a erradicação da mortalidade infantil, mas deverá ser centrado no atendimento às necessidades da população idosa”, disse.
Com o aumento no número de idosos, o Brasil estará obrigado a mudar as regras da Previdência Social e as políticas públicas de saúde voltadas para a população idosa. Em 1980, havia no País 1,4 milhão de pessoas com 75 anos ou mais. Pelas projeções do IBGE, esse contingente deve saltar para 23 milhões de pessoas nessa faixa etária em 2050, período que a população deve se estabilizar e boa parte da força de trabalho começar a se aposentar.
“Se o Brasil desperdiçar o período do bônus demográfico, o envelhecimento poderá se tornar um fator de agravamento da situação social e de rebaixamento das perspectivas do país na comunidade internacional”, disse Alves.
3 de nov. de 2010
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