Fernando Haddad colocou sua candidatura na cracolândia, criticando o governo por ter cometido uma ação "desastrada", devido à falta de coordenação entre a repressão e a ação assistencial e médica. Difícil discordar, ele está certo. Mas, se eleito, fará melhor?
O assunto veio para ficar e os governantes serão medidos, pelo menos em parte, pelas imagens na cracolândia --é o que vai ocorrer se, por acaso, Haddad vencer as eleições. Ou seja, pode ganhar a curto prazo, mas terá depois de mostrar resultados.
Essa é, até aqui, a única boa notícia desde que a operação foi lançada.
Há um consenso de que a ação vai demorar muito tempo e vai ter sucesso se combinar repressão com prevenção --o que o governo fez foi demonstrar a falta de coordenação entre reprimir e cuidar. E, agora, está apanhando, até porque a classe média ficou apavorada com a migração da cracolândia.
Como a cracolândia entrou no topo da agenda do paulistano, transformando-se no símbolo mais visível da deterioração da cidade e de sua incompetência, os governantes terão de apresentar resultados. É algo que, nesse caso, é até fácil de medir. Basta olhar nas ruas.
O governador Alckmin tanto pode virar um herói como um vilão, afinal será o principal beneficiário ou responsável da operação.
Estamos lidando com um problema de múltiplas causas, com uma população que já perdeu as esperanças, sem perspectivas, que quase não tem nada a perder. Se já é difícil tratar adolescentes ricos, com apoio familiar e dinheiro, imagine as vítimas pobres do crack.
Mas um problema só começa a ser resolvido quando vira um desafio de toda uma cidade, de sua elite e de seus governantes.
Essa é, por enquanto, a única boa notícia da cracolândia.
Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Em colaboração com o Media Lab, do MIT, desenvolve em São Paulo um laboratório de comunicação comunitária. É morador da Vila Madalena.
15 de jan. de 2012
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