9 de jan. de 2012

Voto do povo serve de arma contra ele próprio.

JOSÉ APARECIDO RIBEIRO
DE BELO HORIZONTE (MG)

Todos os anos é a mesma coisa: chove, o barranco cede, o barraco cai, o povo grita, a imprensa escreve e dentro de algumas semanas, tudo vira lembranças, até mesmo para os que foram vitimas.
E por que nada muda? Não muda porque tudo depende da política e dos políticos. E com eles nada acontece, são ungidos com o manto protetor do voto. O voto também tem conferido a eles o direito à impunidade, já que tudo vira intriga da oposição e é abafado em nome do "bem comum".
Eu não mexo com você e você também não mexe comigo, somos todos do mesmo "clube": Judiciário, Legislativo e Executivo, ou seja, todos servidores públicos.
O voto tem permitido à eles o direito de prometer e não cumprir e a faculdade de exercer o ofício sem ter vocação. Não muda porque quem poderia promover as mudanças, atribui as causas das tragédias aos desígnios divinos. Deus resolve tudo, só não orienta o povo na hora de votar, nem tampouco seleciona candidatos decentes para que o erro possa ser menor.
Não muda porque quem define as eleições, e que são as maiores vitimas das tragédias, não sabe e nunca saberá ser o juiz da democracia. Não muda, porque o modelo eleitoral está falido e permite que sejamos governados por indivíduos mal intencionados e incompetentes que estão ocupando cargos importantes, quando deveriam ficar longe deles. Não adianta gritar, espernear e achar que as manchetes dos jornais surtirão efeito.
Mais tarde, no conforto do sofá, tudo é esquecido na frente da telinha. Nossa democracia padece de um pecado que o filósofo Platão (Sec IV a.C) chamou de "pecado original de governos do povo". Ela permite a qualquer um, o que não deveria ser para "qualquer um", e quem sela esse pacto, não sabe o que está fazendo e vive no jardim de infância eternamente.
Nossas classes dominantes e uma parcela significativa das classes intermediárias --incluindo a classe média-- não costumam precisar da política e dos políticos, estão com a vida e a sobrevivência garantidas. Isso inclui o Judiciário e o Ministério Público que estão se lixando para o modelo eleitoral que facilita a entrada dos maus e desanima os bons cidadãos no interesse pela política.
O povão, por sua vez, que é quem define as eleições está entretido com o futebol, novelas, carnaval e, mais recentemente, com a barbárie do MMA (artes marciais mistas) e do UFC (Ultimate Fighting Championship). Por isso, o coro da imprensa costuma ser em vão. Se queremos mudanças de fato, capazes de evitar tragédias, o país precisa de uma limpeza na política e de mudanças radicais no processo eleitoral. Com efeito, essa limpeza jamais vai acontecer.
Enquanto mandatos forem comprados e não conquistados por idealismo, altruísmo e vocação, nada muda. Está cada vez mais claro que o voto do povo serve de arma contra ele próprio. Se o governo é do povo, consequentemente a culpa pelas tragédias recorrentes é do próprio povo. Não é por acaso que existe uma máxima que diz que cada povo tem o governo que merece.

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