23 de jun. de 2013

JF começa o ano fora do mapa de investimentos

Depois de iniciar o ano com um tom otimista no que diz respeito à atração de negócios, Juiz de Fora encerra o semestre em um cenário menos favorável. Apostando na concretização de negócios anunciados em 2010 e 2011, a cidade - assim como toda a Zona da Mata - está fora do mapa dos novos investimentos previstos para Minas Gerais desde janeiro, ao menos no que diz respeito aos protocolos de intenção assinados pelo Governo do estado com a iniciativa privada (ver arte). Ao todo, mais de 20 municípios mineiros devem receber cerca de R$ 10 bilhões em investimentos. O levantamento foi feito pela Tribuna com base em documentos assinados no período de 1º de janeiro a 17 de junho, via Instituto de Desenvolvimento Integrado (Indi) e divulgados pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede). O universo de investimentos em potencial é ainda maior, considerando os casos resguardados pelo princípio da confidencialidade, segundo a Sede.
Dentre os protocolos levantados, apenas dois deixam em aberto as cidades de interesse. Juiz de Fora foi citada em um caso específico: a Cantu Comércio de Pneumáticos assinou protocolo em março com a intenção de implementar um centro de importação e comercialização de pneus. Para isso, pretende utilizar o porto seco da cidade ou o de Betim. O investimento estimado é de R$ 2,6 milhões, e a perspectiva é de criação de 25 empregos diretos e 200 indiretos. A empresa foi procurada, mas não se posicionou sobre o assunto.
Sobre a existência de algum protocolo relacionado a Juiz de Fora, a informação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede) é que "não há nenhum que possa ser divulgado". Este ano, até maio, foram assinados 43 documentos, que podem resultar em 13.400 empregos diretos e 31.100 indiretos no estado. Por meio de sua assessoria, a Sede pondera que "as empresas buscam condições que sejam fundamentais para o sucesso de seu empreendimento, que podem incluir logística adequada, formação e qualificação de mão de obra, oferta de energia e proximidade a grandes mercados consumidores. A partir desta análise, a equipe do Indi apresenta os municípios que oferecem as melhores condições. Temos que lembrar que cada projeto é único, e a decisão final cabe à própria empresa".

Nova economia
Segundo o Governo estadual, uma prioridade hoje é a inserção do Estado na chamada nova economia - segmentos que agregam tecnologia e conhecimento -, sem desprezar a vocação para setores produtivos, como o extrativo mineral e o agronegócio. "Esta linha de ação visa a diversificação da economia e geração de empregos mais qualificados." O protocolo de intenções é entendido como um compromisso entre as partes. "Caso ocorra qualquer situação que impeça o cumprimento destes compromissos, o protocolo poderá ser renegociado, com novas condições, ou até mesmo cancelado", esclarece a Sede.
"Apesar de a assinatura do protocolo ser um propósito entre as partes, não quer dizer que será concretizado. Demonstra apenas uma intenção de investimento", reforça o presidente da Fiemg Regional Zona da Mata, Francisco Campolina. Ele cita protocolos firmados envolvendo o município, como os da Ferrous Resources do Brasil (usina siderúrgica) e do Grupo ICEC (fábrica de estrutura metálica), que não se efetivaram. Campolina pondera, ainda, que os investimentos anunciados não têm, necessariamente, aplicabilidade imediata, sendo projetos, por vezes, de médio e longo prazos.
Mesmo sem documentos assinados este ano, Campolina afirma que há negociações em curso para a atração de novos negócios para a cidade. Sem citar nomes, o presidente destaca o diálogo com executivos de duas empresas, uma automobilística e outra do setor metalmecânico, cujo investimento total chegaria a R$ 600 milhões. A perspectiva de criação é de 1.200 empregos diretos. Segundo Campolina, a cidade estaria na disputa por estes investimentos, de interesse também de outros estados. Apesar da reconhecida movimentação na busca por novos empreendimentos, o representante da Fiemg cobra uma política de industrialização para a Zona da Mata. "O que vai atrair empresas são áreas industriais disponíveis, infraestrutura e incentivos fiscais. Se não houver isso, é bobagem falar em política de desenvolvimento."


Municípios contemplados priorizam otimização de área industrial

Poços de Caldas, localizada no Sul do estado, destaca-se pela formalização de dois protocolos nos seis primeiros meses do ano. O mais significativo foi firmado com a ThyssenKrupp do Brasil, que pretende investir R$ 100 milhões na disponibilização de uma planta industrial naquele município. A Thyssen já atuou em Juiz de Fora, como fornecedora da Mercedes-Benz, quando a montadora produzia automóveis na cidade. A perspectiva é de criação de 170 empregos diretos. O segundo protocolo, no valor de R$ 17 milhões, foi assinado com a Nutrire Indústria de Alimentos, que pretende dobrar a atual produção na primeira filial fora do Rio Grande do Sul. Neste caso, o número de empregos chega a cem, incluindo os indiretos.
Conforme o secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Rodrigo Francisco dos Reis, a política industrial de Poços de Caldas baseia-se na captação de novos investimentos e na geração de emprego e renda. Uma preocupação, segundo ele, é promover o desenvolvimento sustentável, não ficando refém de um único empregador. Ao incentivo para doação de área em zonas industriais (há 15 processos em andamento) soma-se a prática de incentivo fiscal. "Percebemos que precisávamos adotar essa postura. O país inteiro está fazendo isso." Após o protocolo com a Thyssen, afirma, "Poços passou a ser olhada por empresas similares, do mesmo segmento". O município soma 155 mil habitantes.
Com porte mais parecido com o de Juiz de Fora (cerca de 600 mil habitantes) e uma histórica "rivalidade" na disputa por investimentos, Uberlândia, localizada no Triângulo Mineiro, firmou protocolo com a Companhia Mineira de Açúcar e Álcool. O projeto de ampliação da capacidade da usina localizada no município demandará investimento de R$ 1,3 bilhão. A perspectiva é de criação de três mil empregos diretos e quatro mil indiretos. O secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo da cidade, Paulo Romes Junqueira, comenta que, hoje, menos importante do que a atração de empresas é o estímulo ao desenvolvimento de negócios já sediados. "O Governo estadual ajuda muito na captação das empresas e temos uma região atrativa." Junqueira comenta que, aos interessados, é oferecido um "terno sob medida" - busca-se atender as necessidades específicas, mas sem grandes isenções, afirma. Em Uberlândia, não há vasta oferta de área industrial. Por isso, o projeto da Prefeitura é ampliar o distrito industrial e garantir melhor aproveitamento dos terrenos subutilizados, a partir da municipalização do espaço de propriedade da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig). "Uma cidade que quer atrair investimento precisa ter espaço físico para ser uma moedas de troca." Embora seja uma cidade de serviços, Uberlândia possui uma base industrial diversificada, que vai da Fábrica da Souza Cruz à Itambé. É considerada o maior centro atacadista de distribuição da América Latina.


Desaceleração econômica ameaça JF

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Juiz de Fora, André Zuchi, aposta na assinatura de protocolos ainda este ano. "Temos pedidos que estão em análise." Segundo o secretário, prossegue o trabalho de prospecção de investimentos, com o esforço para atração de empresas. As apostas estão concentradas nos setores logístico e tecnológico, diz. Zuchi pondera, no entanto, que a desaceleração econômica verificada no cenário nacional posterga a decisão por investimentos e pode afetar o cenário juiz-forano este ano. "As empresas que estão conversando com a gente têm mostrado a vontade de continuar os investimentos." Para Zuchi, a "luz amarela" está acesa.
O diretor da Faculdade de Economia da UFJF, Lourival Batista de Oliveira Júnior, também faz ponderações diante da lista de contemplados com protocolos. Ele destaca a concentração de mais da metade do valor previsto em apenas um negócio (R$ 6,25 bilhões em Morro do Pilar e Santa Maria do Itabira), a participação das expansões, que demonstram a existência de investimento prévio naquele município, a transferência de negócios de São Paulo para o Sul de Minas, resultado da tendência de desaglomeração paulista e possibilidade de redução de custos em solo mineiro, além da força da vocação regional na atração de negócios, em especial na área de mineração.
"O protocolo é importante, necessário e favorável a um município, mas a situação de Juiz de Fora não é preocupante", avalia. Lourival destaca a necessidade de tempo de maturação dos novos negócios que chegaram à cidade e alerta para a importância da preocupação na manutenção de condições competitivas. Apesar da proximidade com os principais centros produtores e consumidores, Juiz de Fora não oferece, hoje, ligação aérea direta com Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo (capital). O economista também destaca a necessidade de oferecer infraestrutura, capital humano, acesso à logística e modais de transporte interligados e eficientes. Para ele, depois de anos de decadência e estagnação percebidos, teve início um processo de reversão que precisa ser mantido.

FONTE: TRIBUNA.COM

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