Milton Temer, militante do PSOL, que esteve no comício em 13 de março de 1964, afirma que as consequências do golpe militar, mesmo depois do processo de redemocratização, podem ser consideradas uma “novela de final infeliz”. Para ele, o país não conseguiu fazer nenhuma das reformas de base propostas por João Goulart no comício de 50 anos atrás.
Há exatos 50 anos, cerca de 150 mil pessoas se reuniam na Praça da República, em frente à Estação da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, para ouvir as propostas de reformas que o então presidente João Belchior Marques Goulart apresentava ao país. O evento acontecia num momento em que Jango, conforme era conhecido por todos, havia acabado de assinar dois decretos que mostravam a sua disposição em enfrentar os setores mais conservadores do país. O primeiro consistia na desapropriação das refinarias de petróleo que ainda não estavam nas mãos da Petrobras e o segundo – chamado Decreto da Supra (Superintendência da Reforma Agrária) - declarava sujeitas a desapropriação propriedades rurais subutilizadas, especificando a localização e a dimensão das propriedades que seriam objeto da ação. No mesmo comício, o presidente anunciou a sua pretensão em fazer a reforma urbana contra a especulação imobiliária e as propostas que pretendia enviar ao Congresso, como concessão do direito de voto aos analfabetos e aos quadros inferiores das Forças Armadas.
No comício Jango dizia: "Hoje, com o alto testemunho da Nação e com a solidariedade do povo, reunido na praça que só ao povo pertence, o governo, que é também o povo e que também só ao povo pertence, reafirma os seus propósitos inabaláveis de lutar com todas as suas forças pela reforma da sociedade brasileira".
Para o jornalista Milton Temer, importante liderança do PSOL que esteve no comício daquele 13 de março de 1964, o ato da Central do Brasil, que entrou para a história como um dos momentos mais marcantes do país e que hoje é lembrado em uma série de atividades no Rio de Janeiro, foi o epílogo de um processo que teve início em 1954, quando João Goulart, então ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, assinou um reajuste de 100% no salário mínimo. Com essa iniciativa, lembra Temer, Jango, por um lado, atende a um pleito dos trabalhadores que, por meio de suas organizações sindicais, pressionavam por melhores salários, e por outro desagrada frontalmente às entidades patronais, que não aceitavam conceder direitos. “A partir daí ele foi alvo de perseguição dos setores mais reacionários, que prepararam o golpe militar dias depois. Isso alegando que havia em curso a ameaça de uma revolução sindical”, lembra Milton Temer, afirmando que a direita não aceitava as reformas propostas por Jango.
Sobre o caráter do governo do presidente deposto em 1964, o jornalista e militante do PSOL ressalta que não se tratava de um revolucionário anticapitalista, mas de uma liderança política que tinha ideias reformadoras dentro do sistema. “E com isso assustava muito os conservadores”, afirma.
Ao avaliar o país 50 anos após o comício que desencadeou a investida dos militares, com o apoio da burguesia industrial, ao golpe de Estado, efetivado no dia 31 de março do mesmo ano, Temer considera que as consequências daquele processo, mesmo com a redemocratização, podem ser consideradas uma “novela de final infeliz”. Para ele, nenhum governo, nem mesmo os dois da era petista, fez qualquer uma das reformas de base propostas por João Goulart no comício de 50 anos atrás. “Jango era um revolucionário em relação ao Lula e à Dilma. Ele foi para o enfrentamento e queria fazer reformas que não agradavam a direita reacionária do país”.
Atividades lembram 50 anos do comício
Com o tema “50 anos do Comício da Central: Lembrar é resistir”, partidos de esquerda, entre os quais o PSOL, centrais sindicais, diretórios e centros acadêmicos, entidades estudantis, movimentos sociais de moradia, OAB e outras organizações políticas promovem nesta quinta-feira (13), logo mais às 17h, um ato na região da Central do Brasil. O pré-candidato do PSOL a presidente da República, senador Randolfe Rodrigues, acompanhado da pré-candidata a vice-presidente Luciana Genro, marcará presença na manifestação.
Hoje de manhã, Randolfe, que foi autor do projeto no Senado Federal que devolveu, simbolicamente, o mandato a João Goulart, deposto, no dia 1º de abril de 1964, pelo golpe dos militantes que dava início a 21 anos de ditadura militar no Brasil, participou da mesa de abertura no seminário "50 anos do Comício da Central: o Brasil que perdemos com o golpe militar", promovido pela Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, no auditório da UERJ. Na mesa, além do senador e pré-candidato do PSOL à Presidência da República, Maria Thereza Goulart (viúva de João Goulart, o Jango), Denise Goulart, João Vicente Goulart, Wadih Damous e Raimundo Neto.
Para Randolfe, "é possível que alguma família tenha sofrido tanto quanto a Goulart, mas nenhuma sofreu mais que ela por amar o Brasil". O senador afirmou, ainda, que hoje o dia é de celebrar o Comício da Central do Brasil e o ex-presidente João Goulart, que "convocou uma geração para transformar o Brasil".
Já às 19h, Randolfe participa do debate “Reforma Política”, com Wadih Damous, presidente da Comissão da Verdade do Rio, Aldo Arantes, ex-presidente da UNE no período de 61-62, e Kleybson Ferreira, da Consulta Popular.
Assista aqui ao vídeo com o discurso de João Goulart em 13 de março de 1964.
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