18 de dez. de 2013

“Somos oposição ao governo Dilma e não nos aliamos com os demo-tucanos”, afirma novo presidente do PSOL

Em entrevista exclusiva ao site de esquerda Diário Liberdade, Luiz Araújo, novo presidente do PSOL, explica que o senador Randolfe Rodrigues, do Amapá, é o pré-candidato oficial do partido à Presidência da República em 2014. Na entrevista, Luiz Araújo também defendeu uma campanha em que os partidos da esquerda socialista revolucionária (PCB e PSTU) e os movimentos sociais sejam chamados para construir o programa da candidatura. Mais do que fazer propaganda para o socialismo, a campanha deve interagir com as demandas sociais que levaram o povo de volta às ruas nas jornadas de Junho, afirma o socialista.Luiz Araújo também negou que o partido vem fazendo alianças eleitorais e políticas com a direita brasileira. Os apoios ocorridos no segundo turno das eleições na cidade de Macapá, onde o partido ganhou em 2012 para prefeito, não se traduziram em presença no governo ou influência programática no projeto do PSOL, conforme explicou o presidente da legenda.
O psolista ressalta ainda que o PSOL é um partido do campo da esquerda socialista e que faz oposição programática ao governo Dilma, do PT.
Luiz Araújo foi eleito presidente do PSOL no Congresso do partido, que terminou domingo passado (01/12) e que definiu o senador Randolfe Rodrigues, do estado do Amapá, como o pré-candidato a Presidência da República. O novo presidente do PSOL foi deputado estadual no Pará, presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) no início do primeiro mandato do ex-presidente Lula e secretário municipal de Educação em Belém nos 8 anos do governo popular de Edmilson Rodrigues, tendo rompido com o PT em 2005.

Diário Liberdade (DL): Qual é o balanço que o senhor, como presidente nacional do partido, faz do Congresso
Luiz Araújo (LA): O Congresso do PSOL representa a consolidação de sua vocação para um partido socialista, democrático e de massas. Realizamos mais de 700 plenárias e elegemos delegados em 25 unidades da federação. As decisões apontam para a priorização de um trabalho que coloque o partido como porta-voz das mudanças sociais reivindicadas pelas jornadas de junho. A aprovação de uma candidatura capaz de disputar o pleito de forma competitiva, que encarne a novidade diante de três candidaturas idênticas em termos programáticos, foi muito importante.
Pela primeira vez, desde sua fundação, o PSOL presenciou a constituição de um campo político sólido e com mais de 50% dos votos dos filiados.

DL: A candidatura de Randolfe Rodrigues é oficial ou o processo estará aberto até a época das convenções eleitorais do ano que vem?
LA: Nossa instância máxima é o Congresso Nacional, Randolfe é nosso candidato e será oficializado na convenção apenas para cumprir as normas da legislação eleitoral. De hoje em diante, com os cuidados legais necessários, a campanha estará nas ruas.

DL: Na fase pré-congressual houve lançamento de três pré-candidaturas (a de Randolfe, a da Luciana Genro e do Renato Roseno). A imagem que se passou, durante este processo, foi que o partido dividiu-se em três. Depois do congresso, uma saiu vitoriosa e, nesse sentido, esperava que a unidade voltasse. No entanto, circulou nas redes sociais, notas e opiniões - até mesmo de tendências e militantes do próprio partido -, afirmando que a escolha de Randolfe Rodrigues só não manteve o partido dividido como criou uma situação propícia a rachas? Isso procede?
LA: Não acho, é do espírito da esquerda fazer debates acalorados. Tivemos no período congressual três a cinco nomes disputando a indicação, pois também estiveram circulando o nome do deputado Chico Alencar e do ex-deputado Milton Temer. É normal que os setores que trabalharam com uma política de veto ao nome do senador Randolfe tenham alguma dificuldade de engajamento na campanha. Em nossa defesa do nome do Randolfe oferecemos a vice à valorosa companheira Luciana Genro, como um gesto de repactuação. Espero que ela aceite, na hora que as condições estiverem criadas para tal. O nosso querido Plínio de Arruda fez questão de assumir a campanha, o Chico Alencar também.
Não acredito que isso se constitua em um problema. Faremos todas as movimentações para engajar todos os setores partidários na construção política da campanha.

DL: Outra coisa que apareceu nas redes sociais foram denúncias de irregularidades na condução do Congresso. Como o senhor responde a essa questão?
LA: As denúncias faziam parte de uma estratégia para deslegitimar o Congresso, divulgando acusações infundadas nas redes sociais. Todas as instâncias partidárias rejeitaram os recursos, inclusive o plenário do Congresso. Isso faz parte de nossa cultura política, infelizmente.
O processo congressual do PSOL é super transparente, com fiscais de diversas teses percorrendo o país, verificando o funcionamento das plenárias e isso deu segurança da lisura do processo.

DL: E a frente de esquerda? Têm ocorrido conversas concretas com o PCB e PSTU sobre isso?
LA: Definida a candidatura de Randolfe procuraremos estes dois partidos para conversar. Queremos formar uma frente de esquerda. Mas o principal é ampliar o escopo de apoios da campanha para engajar todos os segmentos sociais que querem mudança e estão insatisfeitos com os rumos do governo. Chamaremos o movimento social para formular o programa. Uma campanha não pode ficar restrita apenas aos diálogos com os partidos.

DL: O PCB, por exemplo, defende que a frente de esquerda deve levar em considerações não apenas nomes, mas propostas mínimas de um programa socialista e de esquerda. O Randolfe já divulgou carta aberta com suas principais propostas. É possível que sejam incorporadas algumas propostas do PCB para que os comunistas possam indicar o vice?
LA: Com certeza, isso estará em discussão na mesa de negociação. Mas eu insisto, nosso desafio é apresentar um programa que não seja para fazer propaganda apenas do socialismo, devemos interagir com as demandas sociais que levaram o povo de volta às ruas e, infelizmente, os jovens que foram as ruas não estavam apresentando um programa revolucionário, queriam direitos básicos negados pela democracia limitada na qual cresceram.

DL: Qual o impacto das jornadas de junho no Partido Socialismo e Liberdade?
LA: Os impactos são múltiplos. Do lado eleitoral as manifestações cobram um programa que aponte para mudanças concretas na vida das pessoas e que desmonte os dogmas econômicos que estão em vigor. Do lado de funcionamento partidário também devemos tirar lições, especialmente entender por que da reação anti-partido que estava presente e trabalhar para inovar e reinventar nossa prática partidária. Dentre os desafios nesta área está garantir que as entidades dirigidas pela esquerda voltem a ser enxergadas como instrumento de luta de todos e não como correia de transmissão de partidos.

DL: Políticos, como Heloísa Helena, fundadora do partido, e aqueles que estão mais próximos ao Rede, de Marina Silva, do que ao PSOL, ficarão no partido para as eleições de 2014?
LA: Perdemos várias lideranças para o projeto da Rede e isso não foi bom para o partido. Destas lideranças a única que, ao não se legalizar a tempo a Rede, permaneceu nas fileiras do partido foi a Heloisa Helena. Vamos discutir a sua situação na direção partidária. A princípio sou favorável a conceder legenda a ela, pois postula disputar o Senado por alagoas, mesmo sabendo que é uma espécie de filiação democrática e a mesma deve migrar pra Rede em seguida.
A campanha eleitoral de 2012 colocou o partido como alternativa de esquerda e as manifestações de junho e com certeza a campanha de Randolfe consolidarão este espaço político, diminuindo estas migrações.

DL: Randolfe ainda tem sido criticado por coligações e apoios eleitorais mais amplos, ou seja, com a direita. Essa seria uma tática política que foi trilhada pelo PT e que atualmente é condenada pelo PSOL. Como a direção do partido responde a esta contradição?
LA: Não existe esta contradição. As alianças eleitorais ocorridas em Macapá e Belém no ano de 2012 foram autorizadas pelo Diretório Nacional e desgarraram pequenos partidos para apoiar o nosso projeto. Apoios eventuais no segundo turno representaram uma nova experiência para o partido, pois foi a primeira vez que disputamos segundo turno. Basta ver que em Macapá estes apoios não se traduziram em presença no governo ou influência programática, foram apoios eventuais, para derrotar adversários que haviam tirado estes setores da disputa.
O PSOL é formado por um contingente enorme de ex-militantes do PT e surgiu devido a falência deste partido como projeto de esquerda, por isso é natural que siga sendo feitas comparações o tempo todo. Rompemos com o PT e estamos engajados em recuperar o ideário da esquerda no país.
Basta ver a atuação de nossa bancada na Câmara e no Senado. Votamos contra a proposta de novo Código Florestal, enfrentamos as privatizações, inclusive a do pré-sal, lutamos por 10% do PIB para educação pública, fomos a única bancada contra e lei geral da Copa, para citar poucos exemplos. Somos um partido que faz oposição programática ao governo Dilma e não se alia aos conservadores demo-tucanos.

DL: Ser um partido de tendências, como o PSOL é atualmente, significa abrir mão da unidade partidária?
LA: Queremos que o PSOL se consolide como um partido, hoje ainda nem somos um partido com tendências e muitos agem como se fossemos uma federação de grupos, inclusive agindo como verdadeiras frações públicas. Mas isso é um processo lento de decantação da crise da esquerda que nos originou, temos que ter paciência histórica e trabalhar para fortalecer os laços programáticos, aumentar as ações unitárias nos movimentos sociais e consolidá-lo como alternativa.
O Congresso foi um passo decisivo para a criação das condições para, mesmo que em médio prazo, transformar o PSOL em um partido de fato.

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