O ex-prefeito Tarcísio Delgado anda incomodado com o PMDB. Suas considerações atuais sobre o partido em nada lembram a grandeza do jequitibá maduro, na metáfora usada por ele em seu primeiro discurso como líder da bancada peemedebista na Câmara Federal em 1992. "Estão fazendo uma covardia com a (presidente) Dilma (Rousseff), e o PMDB se coaduna com isso." Entusiasta da gestão da petista, mais até do que a do ex-presidente Lula, Tarcísio condena a reação em curso no Congresso frente à proposta da presidente de "colocar fim à bandalheira". "Se fosse líder do PMDB hoje, não duraria três dias", sentencia, durante conversa com a Tribuna em seu escritório no Centro. E o PMDB de Juiz de Fora? Antes da resposta, um acerto na postura. "Estou voltando a atuar no PMDB de Juiz de Fora. Afastei um pouco, mas estou voltando para esse momento de efervescência." Para ele, a "recomendação de candidatura própria" das direções estadual e nacional deverá ser analisada pelo partido no município. "A decisão será do diretório local."
Antes de avançar sobre a discussão a ser travada internamente no PMDB, Tarcísio abre uma parêntese para explicar a expressão "recomendação de candidatura própria." "Não há nenhuma imposição, mas uma recomendação a ser acatada ou não. O diretório vai analisar isso no momento certo." Seu entendimento é de que, até 30 de junho, data-limite para realização de convenções para escolha de candidatos, tudo se resolva. Feita a ressalva sobre a "recomendação", o ex-prefeito chega ao deputado estadual Bruno Siqueira (PMDB). "O Bruno reivindica a candidatura à Prefeitura, e isso é muito justo. Ele está correto. Mas o diretório precisa analisar. Ele é muito jovem. Talvez necessite de mais experiência." A alusão à experiência, leva ao questionamento ao quanto ao seu possível retorno ao páreo. "Não serei candidato", responde prontamente o ex-prefeito. A ressalva, porém, vem em seguida: "Mas sofro uma pressão muito grande para voltar. Se formos juntos até o banco, você vai ver."
Não só no banco, revela Tarcísio, mas também no supermercado e na farmácia. "Uma senhora perguntou se seria candidato dentro da farmácia. Respondi que havia sido prefeito por três vezes e não voltaria. Ela então perguntou pelo (deputado federal) Júlio (Delgado - PSB). O Júlio é jovem, tem três mandatos de deputado, e é natural que o Executivo de sua cidade esteja no seu caminho de homem público." O problema, que o ex-prefeito reconhece como tal, é definir a situação envolvendo Júlio, que é seu legítimo herdeiro, e Bruno, seu correligionário e assíduo respeitador da cartilha do PMDB. "Falei com cada um deles (Bruno e Júlio) em situações distintas que a receita para a derrota de ambos é manter cada qual sua candidatura. Por isso, pedi que conversassem e buscassem um entendimento, mas é muito difícil. Falar para retirar a candidatura quanto já se sente candidato é muito difícil." Embora a recomendação, Bruno e Júlio ainda não conversaram, conta Tarcísio. "O Júlio falou foi com a Margarida (Salomão, pré-candidata do PT à Prefeitura). Os dois circularam juntos nos corredores do Congresso."
Máquina ajuda candidato
A disposição para voltar a atuar no PMDB levou Tarcísio Delgado, na última semana, a Belo Horizonte para participar da convenção extraordinária do partido no estado. Na prática, o evento serviu apenas para dar ares de porta da frente à filiação do senador Clésio Andrade ao PMDB, por quem o ex-prefeito não nutre simpatia. "Se não fosse (a Belo Horizonte), seria pior. Passaria a ideia de que me retirei." Mas não foi uma viagem perdida. "O (deputado estadual) Sávio Souza Cruz (PMDB) fez um discurso muito forte contra o Governo do PSDB em Minas." A referência aos tucanos abre espaço para uma pergunta sobre a gestão do prefeito Custódio Mattos (PSDB). "O Custódio como candidato é forte por conta da máquina. O marketing vai pesar muito. Sei disso por causa de outras eleições."Sobre o atual Governo, o ex-prefeito considera de forma genérica a existência de um considerável desgaste. Mas não detalha a avaliação. Contido, volta no tempo para falar de sua gestão e depois traçar um comparativo. "Em 1998, no segundo ano da nossa gestão, fizemos uma pesquisa de avaliação. A moça que trouxe o resultado recomendou que eu não fosse candidato à reeleição. Não haveria menor possibilidade de sucesso. Iniciamos o ano de 1999 com o Plano Estratégico em pauta e conseguimos a reeleição em 2000." Na ocasião, Tarcísio enfrentou e venceu o ex-prefeito Alberto Bejani (PSL). Hoje, segundo ele, o prazo para Custódio reverter o quadro de desgaste é muito curto. "Temos três meses para o início da campanha."
Por outro lado, sua avaliação quanto a uma nova candidatura da petista Margarida Salomão é bem otimista. "Ela (Margarida) dificilmente não estará no segundo turno." Ainda assim, uma composição com PT e PMDB, conforme o ex-prefeito, demandaria muita conversa. "Agradaria a uma parte mais à esquerda no PMDB, mas não a todos." Embora tenha defendido a presidente Dilma Rousseff em várias ocasiões, ele não falou de conversas de sua parte com interlocutores do PT. Nem mesmo com o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), de quem é amigo, Tarcísio disse que tratou da sucessão em Juiz de Fora. "Encontrei com o Michel em Belo Horizonte de forma muito rápida. Ele perguntou porque eu havia sumido de Brasília. Respondi que sua agenda agora havia mudado muito. Ele disse que era só ligar."
Articulações ganham celeridade
No seu retorno à ativa no PMDB, Tarcísio Delgado deve começar com uma conversa com o deputado estadual Bruno Siqueira. Ele não revelou a data do encontro. "Será muito brevemente." Quanto à pauta, disse querer ouvir. Seu interlocutor também manteve sigilo quanto ao dia e horário, mas mostrou otimismo com a conversa. "Vamos conversar mais a partir de agora", afirmou Bruno, que considerou o retorno de Tarcísio à vida partidária como contribuição excepcional para as discussões internas. Quanto à recomendada conversa com o deputado federal Júlio Delgado (PSB), ele disse que um encontro foi agendado para os próximos dias. O parlamentar do PSB, por sua vez, tem compromissos em sua agenda, não só com Bruno, mas com boa parte dos caciques do PMDB. Seu leque de diálogo exclui apenas o prefeito Custódio Mattos (PSDB). "Nossas conversas acontecem justamente no contexto de criarmos uma alternativa à atual administração."A oposição ao tucano parece não ser o único ponto comum entre Bruno e Júlio, além do fato de ambos quererem chegar à Prefeitura. Os dois vêm queimando, por exemplo, todos seus cartuchos para manter um bom relacionamento com Tarcísio. Sabedores da ojeriza do cacique peemedebista em relação aos tucanos, tanto Júlio quanto Bruno evitam menções diretas ao senador Aécio Neves (PSDB), com quem ambos têm boas relações. Mesmo em relação à crítica quanto sua pouca idade, Bruno tem se valido da diplomacia. Aos correligionários, tem dito que Tarcísio candidatou ao Executivo pela primeira vez com 41 anos e Itamar Franco com 36. Estando ele com 38, permanece na média. A tarefa de Júlio também não tem sido das mais fáceis. Depois de acumular alguns esbarrões com peemedebistas graúdos e mesmo naqueles de casa, foi impelido a superar as arestas em busca de espaço.
Por RICARDO MIRANDA
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