16 de nov. de 2009

CRETINICE MIDIÁTICA: MAIS EXEMPLOS.

A mídia conservadora brasileira tem sido pródiga na confirmação do caráter falacioso de suas reclamações por ameaças à liberdade de imprensa. E são vários os episódios comprobatórios de que o conceito de liberdade de expressão que defendem não é o que garante o debate entre contraditórios, mas sim a manipulação constante do noticiário, de molde a substituir a informação objetiva pela imposição da opinião do órgão como verdade única. Vamos a alguns exemplos.
Quando o assunto é Venezuela, a gritaria vem pesada com respeito às últimas iniciativas do presidente Chavez diante dos desdobramentos do acordo fechado, sobre controle norte-americano de bases militares,à revelia do próprio Congresso, em território colombiano.
Nos encontros realizados com os principais chefes de Estado da América do Sul, o presidente Uribe fez questão de afirmar que tal acordo constituía ato soberano de seu governo, na busca de apoio à luta contra "a guerrilha e o narcotráfico". Era ponto de destaque na argumentação a garantia de que as operações a se realizarem a partir das bases cedidas aos norte-americanos se limitariam ao espaço nacional colombiano.
Pois bem; nem uma quinzena se passa e eis que documento do Pentágono joga na lata do lixo a palavra empenhada por Uribe. Eis o que sobre ele noticiou, sem muito alarde, a Folha Online, de 2 de novembro: "Ao assinar o acordo militar com a Colômbia e garantir o uso da base área de Palanquero, no centro do país, o governo dos EUA considera ter aproveitado uma "oportunidade única" de obter "acesso e presença regional a custo mínimo" numa área sob ameaças constantes, entre elas as vindas de "governos antiamericanos" como o do venezuelano Hugo Chávez.
O argumento acima consta do documento do Pentágono submetido ao Congresso americano para justificar o Orçamento militar do país no ano fiscal de 2010. O texto, sancionado recentemente pelo presidente Barack Obama, inclui verba de US$ 46 milhões a ser aplicada em Palanquero."
Que tal? O que exigiríamos do governo brasileiro se onde fosse dito Chavez se dissesse Luiz Inácio? O Brasil continuaria na posição leniente, omissa, que mantém em relação a Uribe, independentemente do que tal documento comprova de perigoso pela possibilidade de uma iniciativa norte-americana contra nossa Amazônia?
É, ou não, portanto, absolutamente natural que o governo venezuelano tenha declarado a necessidade de se prevenir contra uma possível intervenção ianque em seu território?
O que deveria pautar o noticiário não poderia ser então o que se tornou predominante: mais uma campanha bem de acordo com a defesa dos interesses dos segmentos mais reacionários da dita elite brasileira, em seu intento ininterrupto de desmoralizar o presidente venezuelano, mesmo que para tanto recorra a falsidades e omissões.
Quanto ao noticiário sobre a realidade argentina, os métodos não são menos escabrosos. Manifestações contra o governo Kirchner têm todo o envolvimento positivo no noticiário. A favor, passa a ser manifestação orquestrada. E isto se mostrou escandalosamente no último encontro da "Internacional" do patronato dos diversos segmentos de comunicação, promovido em Buenos Aires. A reunião da famigerada Sociedad Internamericana de Prensa aprovou um conjunto de resoluções contra os governos da Argentina, Equador e Bolívia - para além da sempre alvejada Venezuela, é claro -, pelas iniciativas legais que estes governos vêm, corajosamente, tomando para neutralizar o poder dos grandes monopólios privados de comunicação. Ação, evidentemente voltada a confundir liberdade de informação, com "liberdade" de transformar informação em mercadoria. Sempre visando a proteção dos privilégios que, por exemplo, na Argentina, o grupo Clarin possuía para transformar uma concessão de direito público em propriedade privada monopolizada.
No Brasil, como se comportou o correspondente, em poder e privilégios, do grupo Clarin? Abrindo manchete, evidentemente, contra a movimentação sindical dos gráficos que resolveram bloquear os caminhos de distribuição, não só do jornal Clarin como também do explicitamente direitista La Nación. Viam na manifestação de apoio à luta vitoriosa do governo argentino para a aprovação recente de lei democratizadora das concessões de canais de rádio e tv, por parte desses sindicatos, uma "ameaça à liberdade de expressão". Ou seja; o critério que, durante a crise provocada pelos ruralistas, cortando tráfego de produção agrícola com consequente crise de distribuição de alimentos, ressaltava a mobilização "legítima" contra o governo de Cristina Kirchner, era agora aplicado no senso inverso. Não se trata aqui, que fique bem claro, de manifestar nenhuma tomada de posição favorável em relação ao governo atual da Argentina. Trata-se de mostrar a desonestidade com que ele é tratado naquilo que corresponde a avanços num regime mais justo, ao promover a democratização do controle da informação.
O terceiro exemplo fica por conta da diferença de tratamento no noticiário sobre as visitas do presidente do Irã e a dos diversos membros do governo de Israel. Longe de nós qualquer interesse em defender o governo fundamentalista persa. Mas longe de nós, também, defender o fundamentalismo sionista que norteia as decisões do governo de Israel. Porque é preciso ter claro: ameaça bélica no Oriente Médio não é a construção de uma usina nuclear no Irã. Até porque essa usina vem sendo rigorosamente controlada por todos os serviços de informação das diversas potências ocidentais. Ameaça bélica na região, e por diversas iniciativas e episódios anteriores, totalmente comprovada por sua ação expansionista é o governo de Israel. Mais ainda, por estar nesse país um dos maiores arsenais nucleares do mundo- fora de qualquer controle. Algo em torno de 200 ogivas nucleares, segundo informação divulgada por nada mais nada menos do que Jimmy Carter, numa de suas andanças em sua cruzada por direitos humanos. Mas a nenhum editorialista de página internacional da grande imprensa ocorre esta frugal lembrança. Como também não ocorreu, durante a vista do fascista Arvidor Lieberman, lembrar que entre suas propostas de governo estava o total desconhecimento de direitos das populações árabes em territórios de Israel e áreas ocupadas. Entre ele e o dirigente persa, se alguma diferença pode existir, é o apoio incondicional que o sionista recebe da Casa Branca, a despeito da semelhança de fundamentalismos retrógrados que ambos representam.

Milton Temer é jornalista e filiado ao PSOL.

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