29 de jan. de 2010

‘Quem faz o orçamento da República são as empreiteiras’.

A certeza de que no Brasil os poderosos têm grandes, enormes chances de escaparem impunes quando pegos com a boca na botija – privilégio realmente para poucos em um país que fechou o ano de 2009 com quase meio milhão de clientes do sistema prisional – é tão forte que chega a ser uma daquelas verdades à mão, sempre úteis para explicar, sem o devido aprofundamento em nuances complexas, desde a miséria do povo até a miséria da política nacional (a primeira literal, e a segunda no sentido figurado). Mas uma outra percepção que parece ir se consolidando, filha dessa primeira, é a de que os poderosos que atuam em um ramo em particular da economia gozam de especial condescendência para com suas, digamos, “rotinas” pouco ortodoxas.
Trata-se dos manda-chuvas do setor da construção civil. Sucedem-se, e não é de hoje, o envolvimento das grandes empreiteiras brasileiras em casos de corrupção – alta corrupção – fazendo dobradinha com parlamentares e agentes públicos. Entra ano, sai ano, e continuam abundando as notícias sobre favorecimentos, tráfico de influências, propinas, mesadas, obras superfaturadas, formação de cartéis e toda sorte de esquemas lesivos ao povo brasileiro, porque no fim das contas resultam ou em mau uso do dinheiro público, ou no seu direto desvio para cofres particulares. Pesam suspeitas de irregularidades em quase todas as grandes obras realizadas na história recente do país, da ponte Rio-Niterói à estrada Transamazônica, passando pela Rodovia do Aço, usina de Itaipu e hidrelétrica do Jirau.
Por falar em empreendimentos sob suspeita, em meados de dezembro o Ministério Público Federal pediu a abertura de investigações sobre 14 obras da Camargo Corrêa realizadas em várias regiões do país, entre as quais o aeroporto de Vitória, o metrô de São Paulo e a BR-101. A solicitação do MPF é consequência da operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, deflagrada no dia 25 de março de 2009 e que apontou indícios de corrupção envolvendo a construtora e todos os grandes partidos políticos do Brasil (ainda que o PT tenha sido deixado de fora do relatório final), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e até o ex-presidente Jânio Quadros.
Os anões do orçamento e as gigantes da construção civil:
Segundo investigação da Polícia Federal feita a partir do material apreendido na casa de um dos executivos da Camargo Corrêa que foram presos em março, um dos políticos que teriam recebido financiamento “por fora” para campanhas eleitorais é José Roberto Arruda, governador do Distrito Federal. Outro é Michel Temer, presidente da Câmara dos Deputados e do PMDB. Mas, apesar de ser íntima do poder, nada pode garantir que a Camargo Corrêa seja a campeã entre os notórios corruptores no ramo da construção civil.
Breve pesquisa nos arquivos online dos principais jornais do país mostra que um clipping sobre o oligopólio das empreiteiras brasileiras pode parecer mais uma folha corrida criminal, da Mendes Júnior, velha amiga do velho Estado corrupto (e de Tancredo Neves, José Sarney, Renan Calheiros…) à Odebrecht, que foi expulsa do Equador pelo governo demagogo de Rafael Correa em um caso no qual de fato houve mais corrupção do que demagogia. “Quem faz o Orçamento da República são as empreiteiras”, já dizia o ex-ministro da Saúde Adib Jatene muito provavelmente com grande conhecimento de causa.
Nunca é demais lembrar que a CPI do Orçamento, aquela dos “sete anões”, começou com um alto funcionário do Congresso Nacional, José Carlos Alves dos Santos, dizendo que os mais de US$ 3,5 milhões encontrados na sua casa eram propinas pagas por empreiteiras para incluir no orçamento emendas que lhes interessavam, e terminou com pano rápido quando a coisa estava indo longe demais, para muito além dos anões, ameaçando as gigantes da construção civil, sobre as quais surgiram indícios de que haviam formado um cartel para fraudar licitações de obras públicas.
Hoje, anos depois, Odebrecht, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Mendes Junior e OAS continuam abocanhando os maiores e melhores contratos licitados pela administração pública. Em tempos de PAC e de Comperj, e considerando o histórico da relação entre as partes, pode-se dizer que as perspectivas não são exatamente boas. Enquanto isso, algumas destas construtoras seguem entre as maiores transnacionais brasileiras, apresentadas pelo governo e pela mídia como orgulhos nacionais, com direito a três delas aparecendo nos créditos da cinebiografia do presidente da República como patrocinadoras da obra, sem trocadilho.
Em nossa opinião…

O fato de o governo federal ter parado de investir em ferrovias há décadas, passando a privilegiar rodovias, tem a ver com o fato de que construir rodovias é muito mais lucrativo para as empreiteiras. O país paga uma conta cara por isso, já que o transporte ferroviário é muito mais eficiente.

Fonte: OPINIÃO E NOTÍCIAS
Enviado pelo companheiro Aloisio Borboni

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