No debate promovido na tarde desta terça-feira (11) pelo Instituto Ethos, Plínio Arruda Sampaio foi enfático: “sem ética e ideologia não é possível defender a natureza”. A crítica dirigia-se a todos os representantes das demais pré-candidaturas presentes ao evento. O debate “Responsabilidade Social Empresarial na mídia” reuniu, além de Plínio, Carlos Minc (representando Dilma Roussef/PT), Francisco Graziano (como representante de José Serra/PSDB) e João Paulo Capobianco (em nome da pré-candidata Marina Silva/PV). Plínio e os demais representantes de pré-candidatos foram entrevistados pelos jornalistas Cristiana Lôbo, da ”Globonews” e Luciano Martins, do jornal ”Brasil Econômico” e do “Observatório da Imprensa”. O debate foi moderado Por Paulo Itacarambi, vice-presidente do Ethos.
Logo em sua primeira resposta, a uma pergunta da platéia, Plínio fez questão de afirmar a diferença da sua pré-candidatura em relação às demais. “temos uma outra visão da ecologia, não temos a pretensão de fazer um desenvolvimento que vá até o fim [no avanço sobre a natureza]“, afirmou.
Plínio questionou durante todo o debate a lógica que impõe e extração indiscriminada dos recursos naturais, sem levar em conta a preservação da vida no planeta, para garantir os lucros dos capitalistas. E lembrou que suas propostas não têm como origem a falta de experiência administrativa ou política, resgatando o fato de que foi secretário do governo no Estado de São Paulo, na gestão de Carvalho Pinto, e então coordenou o plano de ação daquele mandatário – o primeiro, à época a ter todas as suas metas implementadas.
“Se eu for eleito presidente da República, não tem transgênicos, nem Belo Monte, nem transposição do Rio São Francisco. O agronegócio [será] limitado”, disse. Plínio também questionou o modelo de exploração de petróleo na camada pré-sal que vem sendo construído, assim como criticou o modelo agroexportador impulsionado pelo governo Lula. Para ele, a melhor proposta para gestão do petróleo nessa camada seria um compromisso internacional de preservação dessas reservas, a fim de o Brasil se dedicasse a um debate aprofundado sobre os danos ambientais da exploração de uma reserva que hoje é comprovadamente um bem em extinção.
Graziano buscou polemizar com Plínio, afirmando que a proposta do PV é de explorar o pré-sal “com responsabilidade” e “com os recursos destinados a uma economia de baixo carbono”, mas não explicou como se daria efetivamente o processo. O PSOL defende – e a bancada na Câmara dos Deputados apresentou projetos de lei nesse sentido – que os recursos derivados da exploração da camada pré-sal sejam destinados para investimentos na educação, saúde, ciência e tecnologia, cultura, reforma agrária e previdência. Em todos os casos, o PSOL defende que a destinação seja “carimbada” com percentuais específicos para cada área, e que a gestão seja integralmente controlada pela Petrobras com a reversão das privatizações já realizadas no setor.
Plínio, especialista em reforma agrária, também defendeu um outro modelo agrário no país como medida efetiva de combate à degradação ambiental. “A pequena agricultura está se demonstrando hoje a mais ecológica, a mais empregadora e, pelo último censo do IBGE, a que tem a melhor produtividade física. Portanto, a maior produtividade por hectare de terra”. Plínio foi o relator do projeto de reforma agrária do governo João Goulart no Congresso Nacional e hoje é presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA), tendo ainda desenvolvido projetos de reforma em todos os países da América Latina e em diversos países africanos durante o período em que esteve exilado na década de 1970.
O representante do PSDB também tentou defender o pré-candidato José Serra como o mais preocupado com a questão ambiental, omitindo que o governo tucano tentou legalizar a grilagem de terras no Pontal do Paranapanema, está expulsando famílias da região do Jardim Pantanal (na capital do Estado) para implementar o Parque Linear Várzea do Tietê sem garantir moradia digna para as famílias que ocupam a área há mais de dez anos por incentivo de governos tucanos anteriores – e preservando empresas como a Bauducco e a Nitroquímica, instaladas à beira do rio.
Diante de várias manifestações de concordância entre os representantes do PT, do PSDB e do PV, Plínio ressaltou que é o único pré-candidato que tem diferenças reais com o projeto defendido pelos demais. Ele lembrou que o PV ocupa cargos em governos do PSDB e do PT. “Onde tem governo o PV está lá, pior que o PMDB”. E concluiu afirmando: “é por isso que eles podem trabalhar juntos, porque não têm diferenças”.
Questionado sobre se a radicalidade que propõe seria uma provocação à sociedade, Plínio afirmou que “toda proposta radical é provocativa” e ressaltou que “uma sociedade que assiste passivamente dois policiais matarem um menino na frente da mãe e não acontece nada? Essa sociedade precisa ser chocada”. Para ele, “o tecido moral do Estado está degradado”, criticando mais uma vez o governo tucano de São Paulo – onde, em menos de um mês PMs assassinaram dois jovens trabalhadores negros sob tortura.
Uma das frases ditas por Plínio durante o debate resume a divergência entre o “ecocapitalismo” (que na opinião dele é o limite dos demais pré-candidatos e seus partidos) e o ecossocialismo defendido pelo PSOL: “Sem ética e sem ideologia não é possível defender a natureza”.
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