Há um ano, a doença de Hugo Chávez lembrou ao mundo
que o presidente venezuelano não é imortal. Depois de se submeter em Cuba a uma
cirurgia de emergência para retirar um abscesso
pélvico em 10 de junho de 2011, Chávez veio a público em 30 de junho para
admitir que sofria de um câncer que, desde então, mergulhou a Venezuela em incerteza, principalmente
depois do retorno do tumor neste ano.
No ano passado, os venezuelanos se deram conta de
que o governo Chávez tem data para acabar não apenas pela decisão das urnas, mas
também pela deterioração de seu estado de saúde, o que os forçou a pensar em um
nome para substituí-lo. A sucessão presidencial, até então um assunto
impensável, atualmente é tema vital em um país que desconhece o verdadeiro
estado de saúde do mandatário – ou mesmo se ele será capaz de disputar as eleições de 7 de outubro.
“O governo não trata o tema de forma transparente”, disse ao
iG Luis Lander, professor titular da Faculdade de Ciências
Sociais da Universidade Central da Venezuela (UCV). “A sucessão de Chávez não é
discutida publicamente. Tudo que se limitam a dizer é que o candidato do governo
será o presidente Chávez e não há outra opção, ainda que seja absolutamente
inegável que sua saúde está cada vez mais deteriorada.”
No artigo “Venezuela entre Incertezas e Surpresas”, a historiadora
venezuelana Margarita López Maya lembrou que “os venezuelanos sabemos o que
Chávez, possivelmente assessorado pelo governo cubano, considera que devemos
saber sobre sua doença”. Assim, a falta de transparência faz com que as
especulações em torno do tema sejam infinitas.
Ainda que a Constituição
venezuelana estabeleça que na ausência do presidente o vice é quem deve assumir,
com alguns apontando que o vice Elías Jaua sucederia a Chávez no Executivo,
especialistas apontam outros quatro possíveis nomes para suceder ao líder que se
intitula bolivariano: o chanceler Nicolás Maduro; o presidente da Assembleia
Nacional Diosdado Cabello; o irmão do presidente e governador do Estado de
Barinas, Adán Chávez; e até mesmo a filha mais velha do presidente, Rosa
Virgínia Chávez.
No início de maio, Chávez nomeou políticos para o Conselho de Estado, que
reúne assessores e conselheiros do presidente. O órgão é classificado na
Constituição venezuelana como o mais alto organismo de políticos próximos ao
presidente, mas não havia sido formado até então.
Qualquer que seja o nome para sucedê-lo, no entanto, até que a piora de seu
estado de saúde se confirme, ele ainda é o chefe do Executivo e, novamente, o
candidato governista que busca se reeleger.
Para Marcelino Bisbal, professor de jornalismo da
UCV, atualmente há uma campanha eleitoral marcada por diferenças particulares:
de um lado um candidato bastante doente que não terá energia necessária para se
locomover com a liberdade e a força de antes, e de outro um político rodando o país, como demanda uma corrida
eleitoral. “Seguramente, a campanha governamental será muito mais midiática,
enquanto a da oposição será cara a cara”, observou Bisbal.
As chances de Chávez deixar a disputa eleitoral se não responder bem ao
tratamento também não estão descartadas. Nesse caso, ainda que militares se
mobilizem para tomar o poder ou ocorra uma disputa interna dentro do governista
PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), especialistas acreditam que Jaua
assumiria a presidência do país, como prevê a Carta, para então escolher um novo
candidato do oficialismo.
Bisbal observou, no entanto, que nenhum outro nome
do governo tem possibilidades reais de derrotar o candidato da oposição.
“Ninguém tem um carisma tão grande como o presidente e tanta chance de vencer Henrique Capriles Radonski.”
Segundo pesquisa do Instituto Consultores 21, que entrevistou 2 mil
venezuelanos em março, o vice-presidente e o irmão do mandatário seriam os mais
votados entre os possíveis substitutos de Chávez. Jaua e Adán teriam 40% dos
votos cada se enfrentassem Capriles, que obteria 49%. Atualmente, segundo o
mesmo instituto, a diferença entre Chávez e Capriles diminuiu para quase 2
pontos percentuais, sendo que o mandatário conta com 46,3% das intenções e seu
rival, 44,8%.
Mas quais particularidades são vantagens para cada
um dos nomes que podem suceder ao presidente no Palácio Miraflores? Segundo
analistas ouvidos pelo iG, enquanto Jaua tem apoio do
governista PSUV, Cabello possui origem militar como Chávez, Adán tem militância
política de longa data, e Maduro é visto com bons olhos por Cuba, um dos
principais parceiros regionais da Venezuela de Chávez. Já a filha Rosa Virgínia
teria o papel de uma espécie de primeira-dama, como teve ”Keiko Fujimori no Peru”, segundo Alejandro Martinez
Ubieda, ex-diretor de Relações Internacionais do extinto Senado.
Para Martinez, o manejo da crise em torno do debilitado estado de saúde do
presidente se faz de uma maneira opaca, que reflete a administração pública do
governo de Chávez.
Além da falta de transparência, há quem aponte como outros problemas do
governo o excesso de centralização e personalismo que fazem Chávez ser mais
importante que o partido ou mesmo as instituições do Estado. “A tensão em torno
da sucessão presidencial mostra que o estilo de liderança se centrou de tal
maneira em Chávez que a figura do próprio presidente hoje ficou em segundo
plano”, concluiu Lander.
FONTE: IG.COM
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