19 de jun. de 2012

Texto da Rio+20 é aprovado em plenária; UE vê 'acordo possível'

O texto final da Rio +20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, acaba de ser aprovado na plenária da conferência, entre palmas e vaias.
Até mesmo a União Europeia, principal derrotada pela proposta apresentada pelo Brasil, elogiou a atuação do país-sede na negociação do que eles chamaram de acordo possível.
Durante as negociações, o Brasil e a UE entraram em choque por causa do documento. A UE havia considerado a primeira versão do documento escrito pelo Brasil fraca e desequilibrada, pendendo demais para erradicação da pobreza e de menos para o pilar ambiental do desenvolvimento sustentável.
Para chegar à versão atual, foram cerca de 14 horas de reuniões que avançaram a madrugada. Antes, a delegação europeia havia sinalizado que queria estender as discussões até quarta-feira, data em que começa para valer a definição de itens a ser acordados pelos chefes de Estado e de governo que começam chegar à capital fluminense.
Ambientalistas presentes ao Riocentro, onde foi realizada a plenária, classificaram de "fracasso colossal" o rascunho final do texto da Rio +20.
"Os diplomatas no Rio decepcionam o mundo", afirmou Jim Leape, diretor-geral do WWF. Segundo ele, faltou visão e liderança aos diplomatas. "Eles deveriam ter vergonha de sua incapacidade de encontrar consenso em um tema tão crucial."
O texto brasileiro apenas reafirma os compromissos firmados 20 anos atrás, na Eco-92, mas não faz avanços significativos na agenda de desenvolvimento sustentável, à exceção do acordo em torno de lançar Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, criticaram.
O texto sobre oceanos, que o Brasil esperava ver como um dos principais resultados da conferência do Rio, foi piorado em relação à versão anterior do documento, afirma Matthew Gianni, da ONG High Seas Alliance.
MADRUGADA
O coordenador brasileiro da Rio+20, Luiz Figueiredo, insistiu em que o texto seria fechado na noite de segunda-feira (18) e convocou uma plenária às 23h para apresentá-lo. Às 2h18, o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota; o secretário-executivo da conferência, Sha Zukang, e a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, convocaram os diplomatas que esperavam havia três horas no salão do Pavilhão 3 do Riocentro para comunicar-lhes que o texto estava pronto --mas que só seria apresentado na manhã de hoje.
Mais cedo, Figueiredo havia reafirmado a decisão do Brasil de não esticar a conversa: "Isso foi abundantemente informado pelo país anfitrião muitas vezes na primeira plenária [domingo à noite], e é isso que vamos fazer. Vamos fechar e aprovar o documento esta noite."
Não aconteceu. A plenária de apresentação do texto foi adiada primeiro para meia-noite, depois indefinidamente, enquanto negociadores americanos riam da confusão e ministros europeus aguardavam comendo biscoitos no sofá e se queixando a jornalistas brasileiros sobre o mistério que cercava o documento.
A imprensa, aliás, foi um capítulo à parte dos acontecimentos da madrugada. Ao perceber a grande quantidade de jornalistas dentro da sala da plenária às 23h, a assessoria de imprensa do Itamaraty anunciou repentinamente uma mudança de sala. O objetivo era filtrar repórteres.
No tumulto formado por delegados correndo de um lado para o outro, porém, a imprensa acabou entrando também na outra sala. A "peneira", então, passou a ser "manual": diplomatas brasileiros fizeram uma varredura na sala da plenária, apontando os penetras aos seguranças da ONU, que convidaram-nos a se retirar.
Com o atraso na entrega do texto, porém, os delegados acabaram saindo logo depois dos jornalistas. A UE aproveitou para improvisar uma entrevista coletiva com suas principais autoridades, o comissário do Ambiente, Janez Potocnik, e a ministra do Ambiente da Dinamarca, Ida Auken, observada de longe por diplomatas brasileiros.
Eles rebateram sugestões dos países desenvolvidos de que estariam atrapalhando a discussão sobre finanças no texto e disseram que tempo de negociação não era o problema --e sim o nível de ambição do texto.
"O tempo nunca foi limitante para nós. Nós realmente achamos que 50 mil pessoas se juntaram aqui [no Rio] para fazer algo que mudaria o mundo. É com isso que temos de concordar", afirmou Potocnik. "Se pudermos fechar o texto em uma hora, ótimo. Senão, tudo bem. O que importa é substância."
Questionada pela Folha se ainda defendia que o texto fosse levado a ministros para decisão, Auken afirmou: "Depende do quanto o nível de ambição for elevado aqui".

FONTE: FOLHA.COM

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