Morreu na manhã desta segunda-feira aos 95 anos o historiador britânico Eric Hobsbawm, após uma longa pneumonia que o manteve internado por meses em Londres.
A informação foi confirmada pela filha do historiador, Julia. Hobsbawm morreu às 6h locais (3h em Brasília) no hospital Royal Free, na capital britânica.
"Ele será uma grande perda não só para sua mulher, Marlene, seus três filhos, sete netos e um bisneto, mas também para milhares de leitores e estudantes em todo o mundo", informou um comunicado feito pela família.
Uma das principais referências no estudo da história no século 20, o autor publicou mais de 30 livros, como "História do Século 20 - De 1914 a 1991", "Guerra e Paz no século 20" e "A Era dos Extremos".
Eric Hobsbawm nasceu em uma família judia em Alexandria, no Egito, em 1917, na época em que o país árabe era uma colônia britânica. Aos dois anos, mudou-se para Berlim.
Hobsbawn e sua irmã Nancy ficaram órfãos na adolescência e foram adotados pelos tios, com quem foram morar em Londres, em 1933, quando Adolf Hitler começava a subir no poder na Alemanha.
O historiador filiou-se ao Partido Comunista inglês em 1936, aos 14 anos, e permaneceu associado durante décadas, até se desiludir com a União Soviética após a invasão à Hungria, em 1956. Ele esteve também proximamente ligado ao Partido Trabalhista britânico, de esquerda, sobre o qual era visto como uma forte influência nos anos 1980 e 1990.
Hobsbawn estudou na Escola de Gramática de Marylebone e também em Kings College, em Cambridge, antes de ser nomeado professor na Universidade de Birkbeckem, em 1947, onde onde trabalhou durante anos até chegar à presidência. Em 1978, entrou para a Academia Britânica.
Anos depois ele disse que "nunca havia tentado diminuir as coisas terríveis que haviam acontecido na Rússia", mas que acreditava que no início do projeto comunista um novo mundo estava nascendo.
OBRAS
Hobsbawm recebeu a consagração da crítica com a trilogia "A Era das Revoluções", "A Era do Capital" e "A Era dos Impérios", um clássico da historiografia sobre o período --o primeiro volume foi publicado em 1962. Na trilogia, ele analisa o que chamou de "longo século 19", período que vai de 1789 a 1914. Começa com as revoluções europeias que definiram a expansão do capitalismo e do liberalismo no planeta --a Francesa e a Industrial inglesa-- e vai até as vésperas da Primeira Guerra Mundial.
"Era dos Extremos", o volume seguinte, que retratou a história até 1991, foi traduzido para quase 40 línguas e recebeu muitos prêmios internacionais.
Seu último livro, "Como Mudar o Mundo" (leia crítica aqui ), publicado em 2011, esmiúça a gênese da produção de Karl Marx (1818-1883), que recebeu influências do socialismo francês, da filosofia alemã e da economia-política britânica. É um mergulho na história do marxismo, mostrando como a trajetória desse pensamento se entrelaçou com as lutas sociais e políticas.
"A redescoberta de Marx está acontecendo porque ele previu muito mais sobre o mundo moderno do que qualquer outra pessoa em 1848. É isso, acredito, o que atrai a atenção de vários observadores novos --atenção essa que, paradoxalmente, surge antes entre empresários e comentaristas de negócios, não entre a esquerda", afirmou Hobsbawm em entrevista ao "Guardian" à época do lançamento da obra no exterior.
Segundo o jornal britânico "Guardian", o historiador tem um livro em revisão com publicação prevista para 2013.
Em 2003, Eric Hobsbawm veio ao Brasil para participar da primeira edição da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, no RJ, evento do qual foi atração principal.
BIBLIOGRAFIA EM PORTUGUÊS
1962 "A Era das Revoluções" (ed. Paz e Terra)
1969 "Bandidos" (ed. Paz e Terra)
1973 "Revolucionários: Ensaios Contemporâneos" (ed. Paz e Terra)
1975 "A Era do Capital" (ed. Paz e Terra)
1984 "Mundos do Trabalho: Novos Estudos Sobre a História Operária" (ed. Paz e Terra)
1987 "A Era dos Impérios" (ed. Paz e Terra)
1989 "História Social do Jazz" (ed. Paz e Terra), "Estratégias para uma Esquerda Racional" (ed. Paz e Terra)
1990 "Ecos da Marselhesa: Dois Séculos Reveem a Revolução Francesa" (ed. Companhia das Letras)
1991 "Nações e Nacionalismo desde 1780" (ed. Paz e Terra)
1994 "A Era dos Extremos" (ed. Companhia das Letras)
1998 "Pessoas Extraordinárias: Resistência, Rebelião e Jazz" (ed. Paz e Terra)
2002 "Tempos Interessantes" (ed. Companhia das Letras)
2007 "Globalização, Democracia e Terrorismo" (ed. Companhia das Letras)
2011 "Como Mudar o Mundo" (ed. Companhia das Letras)
FONTE: FOLHA.COM
1 de out. de 2012
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