• Essas eleições municipais, de conjunto, marcaram um aumento do espaço à
esquerda no país. Apesar de, num cenário de desaceleração da economia, o governo
Dilma manter sua alta popularidade e o PT gozar de significativo crescimento, em
geral a oposição de esquerda se fortaleceu.
Tal espaço pode se comprovar
por resultados como o do PSOL, que elegeu 49 vereadores em todo o país e o seu
primeiro prefeito em uma pequena cidade do interior do Rio de Janeiro, Itaocara.
A candidatura de Marcelo Freixo na capital do estado angariou o expressivo apoio
de 28% dos eleitores. Já o PSTU elegeu dois vereadores em duas capitais e teve
resultados como o de Vera Lúcia em Aracaju, com 6,68% dos votos, a maior votação
da história do partido em um cargo executivo. Em Belo Horizonte, Vanessa
Portugal teve quase 20 mil votos (1,55%), num cenário de enorme pressão pelo
chamado ‘voto útil’ na candidatura petista.
O PSOL teve ainda dois
candidatos que passaram para o segundo turno em duas capitais: em Belém e
Macapá. No entanto, o que poderia significar uma importante vitória para a
esquerda socialista e o avanço de um projeto realmente popular em duas capitais,
com governos voltados às necessidades da maioria da população, está se tornando
em seu contrário. O arco de alianças firmado pelo PSOL nessas cidades indica
dois projetos políticos que, se eleitos, não serão alternativa aos partidos
tradicionais.
Em Belém, a propaganda eleitoral com Lula declarando apoio
a Edmilson Rodrigues (PSOL) no último dia 21, reivindicando seus mandatos e
dizendo que "a boa relação entre os municípios e o Governo Federal é muito
importante", chocou boa parte da esquerda, incluindo a própria base do PSOL. Na
verdade, o acordo com o PT já havia sido firmado na semana anterior, divulgado
em ato público e sem consulta aos demais partidos da frente. A declaração de
Lula nesse domingo coroou essa política.
Além do PT, o partido de
Edmilson firmou alianças com o PDT e até mesmo com um vereador do DEM. Diante
disso, o PSTU se viu obrigado a romper a coligação, firmada sob o compromisso da
independência de classe e do governo. O PSTU já criticava publicamente o
financiamento de empresas na campanha do candidato do PSOL, assim como a
presença do PCdoB na frente. Agora, as coligações com o PT, o apoio do governo e
partidos de direita descaracterizam completamente a candidatura que expressava o
sentimento da população, sobretudo mais pobre e humilde, por mudança. O PSTU
está chamando o voto crítico em Edmilson, mas alerta que, permanecendo essas
alianças, nada vai mudar.
Já em Macapá a situação é ainda mais dramática,
pois a coligação do PSOL se dá com a direita mais retrógrada e oligárquica, de
partidos como o DEM, PTB e PSDB. Costurada pelo senador Randolfe Rodrigues
(PSOL-AP) com a própria família Sarney, a coligação com o candidato Clécio Luís
à frente vem provocando uma justa indignação de correntes e militantes do PSOL.
E para agravar ainda mais esse cenário, Randolfe no ato público que celebrou as
alianças afirmou o seguinte: "Estamos apontando não simplesmente uma aliança
política, estamos apontando um caminho político novo no Amapá" (clique
aqui para ver o vídeo). Ou seja, para o senador, não se trata apenas de uma
coligação eleitoral, mas um novo rumo na política do partido.
A
contradição é ainda maior se recordarmos que Randolfe ganhou notoriedade
justamente na CPI que investigava a ligação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com
o senador cassado Demóstenes Torres, do DEM. Em reportagem da revista Veja,
Randolfe defendeu essa política de alianças. "Não podemos ter vocação para ser
um PSTU”, disse à revista. Randolfe talvez ache que o PSOL tem vocação para ser
um novo PT, pois atua fortemente para que isso aconteça.
Para onde
vai o PSOL?
Belém e Macapá provocaram o veemente repúdio de vários
militantes e algumas correntes do PSOL. O atual presidente do partido, o
deputado Ivan Valente, porém, segue defendendo a 'flexibilização' das
alianças. "O segundo turno é uma coisa diferente, como vamos recusar
apoios?", declarou à Veja. “É preciso trazer recursos, investir nessas
cidades. Não dá para ser intransigente" afirmou ainda o deputado, mostrando
uma surpreendente guinada à direita e já revelando como será um eventual governo
do PSOL.
A verdade, porém, é que essas duas campanhas constituem um
lamentável marco para o PSOL, que refaz em passos rápidos os caminhos do PT. O
Partido dos Trabalhadores levou pelo menos duas décadas para se adaptar
completamente à institucionalidade e se tornar uma sigla como as demais. O PSOL,
insistindo nesse vale-tudo eleitoral, vai completar esse ciclo em um tempo bem
menor. Basta lembrar que, da polêmica sobre o recebimento de R$ 100 mil da
Gerdau pela campanha de Luciana Genro em Porto Alegre em 2008, até a ampliação
dessa prática de financiamento de empresas e coligação com a direita, se
passaram somente quatro anos.
A polêmica agora nem tem mais como centro a
prioridade que o PSOL confere às eleições, mas das concessões que está fazendo
para eleger. Todo militante honesto sabe que, uma vez eleito, esses apoios e
alianças cobrarão seu preço no futuro e esses mandatos, inevitavelmente,
acabarão em decepção. Ou seja, nem mesmo como um projeto reformista eleitoral
essa política serve. É importante sim eleger parlamentares socialistas que, uma
vez eleitos, atuem como tribunos dos trabalhadores. O que não dá para fazer é
abandonar os princípios e fazer das eleições um fim em si mesmo, como o PSOL em
Belém e Macapá.
Os dois vereadores que o PSTU elegeu nessas eleições,
embora pareça um resultado bastante modesto, foram conquistados através de
campanhas sem o financiamento de empresas, alianças com a direita ou o governo,
nem rebaixando um programa socialista para as cidades. Ou seja, mostraram que,
ao contrário do que se diz, é possível sim eleger sem se vender ou abrir mão de
princípios.
Não se trata aqui de tripudiar sobre o PSOL. A questão é que
esse tema não se refere apenas a determinado partido, mas ao conjunto da
esquerda socialista. A experiência do PT mostrou como a adaptação e a
degeneração de um partido classista, ao invés de fortalecer seus 'concorrentes',
traz mais ceticismo à classe, que passa a ver os partidos como 'todos iguais' e
cai na prostração. É uma vitória da direita.
Fazemos um chamado aos
militantes honestos do PSOL, para que exijam da direção do partido a mudança nos
rumos dessas candidaturas, ou que rompam com o partido. É importante que o PSOL
reveja sua política e não trilhe o mesmo caminho do PT. Essa novela, não vale a
pena ver de novo.
FONTE: PSTU (http://www.pstu.org.br/nacional_materia.asp?id=14621&ida=0)
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