Há 20 anos, completos neste sábado, o "sim" decisivo provocou euforia no Congresso e uma onda de comemorações em todo o País. Telões foram espalhados em praças das principais capitais, onde a população se reunia, contando voto a voto, e vibrando como em um jogo de Copa do Mundo.
Naquele dia, Paulo Romano, que entrou no Congresso como suplente e cumpriu somente três anos e dois meses de mandato, estava no fundo do plenário em Brasília e, até chegar o seu momento de falar, não fazia ideia de que o seu voto seria o definitivo. "Demorei para chegar até o microfone. Estava uma zueira total, nem dava para ouvir o que eu falei", relembrou Romano, em conversa com o iG .
"Eu não considerava aquele um julgamento político. A nação estava mobilizada e representada pela juventude nas ruas. Foi uma sensação de alívio político. (...) Foi um dos raros momentos do dia a dia do Congresso em que tivemos um alinhamento forte entre os anseios da nação e da Câmara." Seu discurso também não estava preparado, diz ele. "Um deputado estava doente, outro deputado não votou. Além da ordem alfabética tinha a ordem pelos Estados também. Eu fiquei sabendo na hora ( que daria o voto definitivo )."
Romano, que hoje é, em Minas Gerais, secretário-adjunto de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, disse que poucos dias antes da votação ninguém tinha certeza do que iria acontecer. Esperava-se que o processo de impeachment fosse aberto, mas não que seria legitimado com esmagadora maioria. Dos 503 deputados, 480 estavam presentes. Desses, 441 votaram a favor, e 38 contra.
O PFL, seu partido na época, integrava a base aliada do
governo Collor, e chegou a ocupar ministérios importantes como o da
Educação, com Carlos Chiarelli, e da Saúde, de Alceni Guerra. Apesar
disso, o partido já avaliava a dificuldade de manter o ex-presidente,
alvo desde maio de denúncias de um esquema de corrupção no governo que
envolvia seu ex-tesoureiro de campanha,
PC Farias
.
No dia da votação, segundo Romano, o partido
tinha liberado seus deputados a votar de acordo com suas posições. "Eu
fui o primeiro ( do PFL
) a abrir meu voto, certamente aquilo chamou atenção. Fui procurado para
mudar minha posição, que eu tinha assumido em coletiva ( de imprensa
). Com certeza não ia mudar de voto. Era uma questão de foro íntimo", disse.
Mas o clima que antecedeu o fatídico 29 de
setembro, segundo ele, era de pressão sobre os congressistas. "Foi um
clima muito tenso para mim, porque eu fui procurado por membros do
governo, ministros, gente que tinha ligação íntima com o presidente",
afirma. Segundo Romano, nas vésperas da votação, ele e o próprio Collor
tiveram uma conversa reservada, durante cerca de 50 minutos, na qual o
ex-presidente teria tentado convencê-lo a mudar de opinião.
Romano afirma que o então presidente dizia que
um impeachment seria danoso para o País e que as denúncias do chamado
esquema PC eram um "absurdo". "Eu insisti com ele que ( minha posição
) não tinha nenhuma relação de foro político. Minha decisão era de foro
íntimo. Ele falou que aquilo era um 'linchamento político'. Ele usou
essa expressão. Eu disse para ele que não era. Que era uma maneira de
ele se reconciliar com a nação."
O dia 29 de setembro de 1992 configurou-se,
para o deputado, um alívio. "Foi muito desgastante esse quadro anterior.
Isso sedimentou minhas convicções de maneira que quando chegou aquela
oportunidade de dizer que eu estava favorável ao impeachment foi um
alívio. Eu senti aquele calor da cidadania, da mobilização que tinha
fora do Congresso. Foi o fim de um processo que, afinal de contas, foi
importante para a democracia."
Apesar da importância histórica que seu "sim" teve em
1992, Romano nunca mais voltou a ter cargo legislativo. Ele tentou uma
reeleição em 1994, mas saiu derrotado nas urnas. "Carreira política
propriamente dita eu não tive. Entrei, mas não fui reeleito. Aí entendi
que não era meu perfil também. Estava acostumado com o executivo, para
ver os resultados mais de perto."Ligado aos governos Aécio Neves e Antonio Anastasia, ambos do PSDB em Minas Gerais, Romano é, desde 2006, secretário de Agricultura. Antes, foi da Secretaria de Recursos Hídricos dentro do Ministério do Meio Ambiente, no governo Fernando Henrique Cardoso . "O ambiente na política não me estimulava muito." Ainda assim, Romano participou das campanhas de Anastasia e Aécio em 2010. "Participei como cidadão", afirma.
Quanto à presença de Collor atualmente nos corredores do Senado, Romano é cauteloso. "Não caberia fazer julgamento, do ponto de vista do direito de ele voltar ( à cena política ). Como um criminoso que vai para a cadeia para cumprir pena por um determinado delito, quando retorna, volta com sua plena condição de cidadão", afirmou. "Ele representa o Estado de Alagoas no Senado. No jogo democrático, a população de Alagoas entendeu que ele merecia."
FONTE: IG.COM
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