Uma pesquisa divulgada hoje (5) mostra que o Brasil tem 2,6 milhões
de usuários de crack e cocaína, sendo metade deles dependente (1,3 milhão).
Deste total, 78% cheiram a substância exclusivamente (consumida na forma de pó);
22% fumam (crack ou oxi) simultaneamente e 5% consomem apenas pelos cachimbos,
que já viraram marcas registradas das áreas degradas e conhecidas como
cracolândias.
O estudo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), unidade
de pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostra ainda que, do
total de usuários, 1,4 milhões (46%) são moradores da região Sudeste e 27%
residem no Nordeste. No ranking de regiões, o Norte aparece em 3º lugar (10%)
empatado com o Centro-Oeste. O sul, com 7% de concentração, está em último
lugar.
“Fizemos as análises por classe econômica e, diferentemente do esperado, não
houve nenhuma diferença estatística. O padrão de consumo de cocaína, seja
aspirada ou fumada, é o mesmo entre os ricos ou entre os pobres”, afirma uma das
autoras do estudo, a psicóloga Clarice Sândi Madruga. “Uma das hipóteses para
este cenário é que o preço da cocaína está muito mais barato, o que facilita o
acesso.”
Para os pesquisadores os achados sugerem que assim como a cocaína se
popularizou e chegou à classe média e média baixa, o crack também deixou de
fazer parte apenas dos problemas da população de rua e da marginalidade, como
era no início da epidemia. A droga hoje afeta todos os segmentos
socioeconômicos.
“Não há no mundo país que venda cocaína de forma tão barata. Em média, o
preço da venda aqui é U$ 2 nos Estados Unidos custa 10 vezes mais”, completa o
psiquiatra Ronaldo Laranjeira, também autor do estudo da Unifesp e que investiga
o padrão de uso de drogas em todas as nações, sendo consultor de muitas
delas.
“Além disso, os governos não fizeram a lição de casa nos últimos anos. Não há
um combate efetivo do tráfico drogas e, ao mesmo tempo, não foi ampliada a rede
de prevenção dos novos usuários e nem o aumento da oferta de tratamento para os
já dependentes.”
“Por ser muito populoso, o Brasil deixou de ser só local de passagem das
drogas para virar destino final de consumo.”
Pelos dados da Unifesp, 2% da população brasileira usaram cocaína ou crack no
último ano. Apesar de proporcionalmente parecer pouco, em números absolutos é
muita coisa, diz a especialista em álcool e drogas, Ilana Pinsky.
“Isso sem contar que quando o assunto é sensível, como o caso da dependência
química, as pessoas tendem a não ser totalmente verdadeiras nas respostas. Com
quase toda certeza, a população usuária de drogas é maior do que a identificada
na pesquisa”, avalia Ilana.
Mesmo que subestimada, os 2,6 milhões de brasileiros que se declaram, sendo 1
milhão deles consumidor de crack, já somam 20% do total de consumidores mundiais
de cocaína, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) utilizados pela
Unifesp. “Em números absolutos, nos mostram os dados da OMS, o Brasil é o
segundo mercado de cocaína do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e
provavelmente o primeiro do mundo de crack, já que os outros países não separam
a forma de consumo, aspirada ou fumada”, ressaltou a psicóloga Clarice
Madruga.
“O crack está mais associado à mortalidade e ao envolvimento com a
criminalidade”, afirma Laranjeira. “O uso da cocaína é mais escondido, embaixo
do pano, mas nos números mostram que eles são muito altos e prevalentes. Na
Europa toda há um declínio da utilização. No Brasil, percorremos caminho
inverso”, lamenta.
FONTE: IG.COM
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