A cena é insólita. Quarta-feira, pouco antes do meio-dia, quatro comunistas dirigem-se para a entrada principal da Catedral de Juiz de Fora. A proposta era gravar um vídeo com o candidato do PCB à Prefeitura de Juiz de Fora, Laerte Braga, no adro da igreja, mas a chuva acabou levando o comunista e mais três camaradas a se esconderem sob o pórtico. Ali mesmo, em um só fôlego, foi feita a gravação. Dali, os quatro seguiram para outra aparente incongruência para quem é filiado ao partidão: almoço em um restaurante na área nobre da cidade. Mas, em ambos os casos, os convites foram feitos pela Tribuna, dentro da proposta de sabatina com todos concorrentes a prefeito.
As duas situações incomuns ao habitat comunista não incomodam Laerte. "O Stedile (João Pedro Stedile, da direção nacional do MST) disse que sou colonizado." Colonizado por gostar dos cineastas Woody Allen, Jean-Luc Godard e Federico Fellini e, pior ainda, por ouvir jazz e blues. E para por aí. Suas propostas para o município, bem como sua candidatura, são, segundo ele, do PCB. "O PCB decidiu assumir nessa campanha sua característica de partido leninista-marxista, de partido que propõe uma mudança estrutural." A estratégia, revela, é a mesma do pugilista norte-americano Mohammad Ali, que, entre lutar por fora e por dentro, preferia a primeira opção, por se tornar alvo mais difícil e poder surpreender. "O PCB luta por fora."
Nessa sua luta comunista, o candidato propõe uma primeira mudança na forma de pensar. "É preciso partir do princípio que acordamos em Juiz de Fora. Minas e o Brasil vêm depois. Juiz de Fora é nossa realidade imediata, é a célula do desenvolvimento político, econômico, social e de construção de uma nação forte." A grande mudança, prossegue Laerte, será conquistada a partir das cidades. Para tanto, prossegue ele, será necessária ampla participação popular, que é o segundo eixo da proposta de campanha do partidão. Entre as questões a serem colocadas para discussão com a sociedade estão saúde pública sem terceirizações, educação integral e estatização gradual do transporte público coletivo. "Embora sejam coisas difíceis de fazer na atual realidade capitalista, são factíveis se feitas de forma gradativa."
O garçom chega, e Laerte retoma sua veia colonizada. Pede refrigerante de guaraná light para beber e um filé de bacalhau grelhado como prato único e principal. Depois, quando os pratos são servidos, gosta do que vê no prato da jornalista e pede a mesma salada. "Sou complicado com alimentação. Na minha casa, almoço apenas frango assado com frutas." Mas não se trata de uma aproximação com algum tipo de culinária cubana. "É dieta mesmo. Cheguei a pesar 113 quilos. Hoje oscilo na casa dos 80 quilos." A referência à "Ilha" não passa impune. Para ele, Cuba é um paraíso, em comparação com o modelo atual do capitalismo de fome, de desemprego, de poluição, de pessoas perdidas. "Cuba preserva aquilo que (Karl) Marx dizia que é transformar a natureza em proveito do cidadão em função de suas necessidades básicas."
Além de Cuba, também as experiências socialistas recentes na América Latina são lembradas por Laerte ainda que com alguma ressalva. A ideologia radical de esquerda do bolivarianismo, encampado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tem divergências com o PCB no que tange a preservação dos direitos básicos do cidadão. "Mas significa uma avanço extraordinário para a América Latina quando se começa voltar aquela coisa da América 'Latrina', com golpes de estado no Paraguai e em Honduras."
FONTE: TRIBUNA DE MINAS.COM
5 de ago. de 2012
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