29 de ago. de 2012

Técnicos voltam hoje ao trabalho

Os trabalhadores técnico-administrativos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) irão retomar suas atividades a partir de hoje. Em assembleia realizada na manhã de ontem, em uma das unidades do Restaurante Universitário (RU), no Centro, a categoria decidiu por fim ao movimento grevista que já se arrastava há 78 dias. A decisão seguiu a recomendação do comando nacional de greve, que orientou pela volta aos trabalhos a partir da última segunda-feira. O desfecho foi motivado pela assinatura de acordo com o Governo federal, na última sexta-feira. O encerramento da mobilização dos servidores, que somam cerca de 1.200, entretanto, não representa a volta da normalidade no cotidiano da UFJF, que permanece sem aulas. Em encontro ontem à tarde, na sede da Associação dos Professores de Ensino Superior de Juiz de Fora (Apes), os docentes ligados à instituição e ao IF Sudeste deliberaram pela manutenção da greve que completa hoje 101 dias.
 Pelo acordo firmado entre técnico-administrativos e Governo, os servidores receberão reajuste de 15,8%, diluídos nos próximos três anos. A primeira parcela do aumento, acréscimo de aproximadamente 5%, será efetuada em março do ano que vem. A terceira e última acontece em março de 2015. O impacto orçamentário para o Executivo será de R$ 2,9 bilhões. "Não foi uma negociação fácil, e nem chegamos aos patamares que queríamos. Porém, se o reajuste de 15,8% não era suficiente para tirar a categoria da greve, o Governo melhorou alguns pontos de nossa carreira, o que possibilitou a assinatura do texto", explica Maria Ângela Ferreira da Costa, representante local no comando nacional de greve. Entre as conquistas citadas está o aumento dos percentuais e extensão do incentivo à qualificação dos servidores. Outra vitória seria a evolução do step, diferença entre o salário base e os demais degraus dentro da carreira, dos atuais 3,6% para 3,8% em 2015.
 Durante a assembleia de ontem, os técnicos-administrativos demonstraram receio de que a proposição engessasse a categoria nos próximos três anos. Os servidores, no entanto, não descartaram novas mobilizações já que o reajuste que será concedido pelo Executivo não cobre as perdas inflacionárias dos exercícios de 2011 e 2012. "Colocamos para o comando nacional que a assembleia e o comando local de Juiz de Fora tinham este entendimento. O que foi avaliado pelos representantes nacionais da categoria é de que não ficaríamos engessados. Se precisarmos fazer uma greve amanhã ou depois, vamos fazer. Isso foi colocado para o Governo. A categoria não está saindo do movimento satisfeita com estes 15,8%. Isso não é nada. É uma ofensa", resumiu Maria Ângela.
Reunidos em assembleia, trabalhadores votam por encerrar o movimento na UFJF
A greve dos servidores comprometeu o funcionamento de unidades como bibliotecas, restaurantes universitários, central de atendimento, secretarias, coordenações, laboratórios e setor de transporte. Serviços essenciais como os prestados nos hospitais universitários e de segurança foram mantidos. A expectativa é de que as unidades funcionem normalmente hoje, com o retorno dos técnico-administrativos aos trabalhos.

Duque diz que não mandou retirar lacres

O reitor da UFJF, Henrique Duque, esteve presente no início da assembleia dos técnico-administrativos realizada ontem. Duque fez um desabafo sobre a nota de repúdio contra a Reitoria divulgada pelo comando local de greve e pelo sindicato que representa a categoria em Juiz de Fora, o Sintufejuf, na última quinta-feira. O documento fazia menção à liminar obtida pela Procuradoria-Geral Federal, a favor da universidade, que obrigou os servidores a retirarem todos os lacres simbólicos, como cartazes, faixas e adesivos, colocados em portas e prédios da instituição, sob riscos de multa diária de R$ 10 mil.
"Desde que fui eleito reitor pela primeira vez é público e notório que tive apoio maciço de vocês e assumi compromissos com a categoria. Todos foram cumpridos. Sempre fui e sempre serei porta-voz da minha classe. Sou talvez um dos mais antigos filiados deste sindicato. Tenho orgulho disso. Nunca abri uma sindicância contra um colega. A greve é uma luta marcada por conflitos. Dessa vez, o Governo endureceu. Não mudei em nada. Esse foi um ato feito pela Procuradoria, que tem autonomia própria. Quem nomeia o procurador não sou eu, e, sim, o Governo federal. Não pedi para retirar lacre. Não fiz e nem o farei. Sempre estarei de portas abertas e falo com vocês de igual para igual. Como reitor sou também um servidor. Fiquei muito triste com essa nota", afirmou o reitor, visivelmente emocionado.
Apesar dos esclarecimentos de Duque, os técnico-administrativos votaram pela manutenção de um ato que já havia sido aprovado na assembleia anterior e que prevê a exposição de faixas na UFJF, condenando a Reitoria pelo que os servidores chamam de tentativa de criminalização do movimento grevista.

Professor quer mais negociação

Os professores mostraram unidade ao aprovarem a manutenção do movimento. De acordo com a avaliação da assembleia de ontem, na Apes, a categoria deve insistir e valer-se de todas as via possíveis para convencer o Governo federal a reabrir as negociações com os docentes. "A decisão foi de continuidade das ações no sentido de pressionar o Governo a apreciar nossa contraproposta. Vamos trabalhar nisso até que todos os canais se esgotem. Depois disso, voltaremos a discutir sobre os rumos do movimento", afirma Rubens Luiz Rodrigues, presidente da Apes. A categoria realiza nova assembleia na próxima terça-feira.
 Na última sexta-feira, o Ministério da Educação (MEC) emitiu uma nota oficial reafirmando que as negociações com os professores da rede federal estão encerradas. O entendimento governista é de que o acordo - que prevê reajuste entre 20% e 45% - assinado com a Federação de Sindicatos de Professores de Instituições de Ensino Superior (Proifes), um dos sindicatos representantes dos docentes, colocaria um ponto final nas conversas. O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) e o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), entretanto, afirmam que o Proifes teria uma representatividade muito pequena para defender os interesses dos professores.
Na última semana, o Andes-SN protocolou no Ministério do Planejamento uma contraproposta formulada pelos professores em mais uma tentativa de reabrir as negociações. Para restabelecer o diálogo, o sindicato abre mão de reajustes salariais imediatos, em troca de uma reestruturação do plano de carreira dos docentes. A nova proposta é para que, a cada degrau de progressão, os vencimentos sejam corrigidos em 4%. Anteriormente, o percentual pleiteado era de 5%. O sindicato também optou por aceitar o piso inicial proposto pelo Executivo, de R$ 2 mil, ao contrário do anseio anterior, de R$ 2,5 mil, considerado o salário inicial ideal pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Prejuízos
Durante a assembleia, um grupo de estudantes do terceiro ano do ensino médio do Colégio de Aplicação João XXIII, ligado à UFJF, levou para o comando de greve um apelo para que, ao menos as aulas deste grupo de estudantes, fossem retomadas. O receio dos alunos é de que eles possam ser prejudicados no acesso aos processos de seleção para as universidade federais, que terão o início entre o final deste ano e o início do ano que vem. A solução definida em assembleia é fazer um pedido ao comando nacional para que negocie com o MEC o adiamento das matrículas do Sisu (Sistema de Seleção Unificada). "Nosso medo é perder um ano de estudos por conta da greve", reclama a estudante Carolina Arantes, de 17 anos.

FONTE: TRIBUNA.COM

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